QUEM TEM MEDO DO BICHO PAPÃO?!

Jamais passaria na cabecinha de Bia que aquele lugar lindo para onde seus pais a estavam deixando para passar alguns dias de suas férias, acabaria se tornando o lugar mais marcante de sua vida, afinal seria uma separação de sua inocente infância de nove anos e o começo de uma “vida” cheia de medos traumas e desconfianças.

Quando o carro estacionou no portão do sítio dos seus tios, os olhinhos aflitos e ansiosos de bia já avistavam o balanço de cordas, as árvores, o campo parecido com um tapete imenso, os animais... Enfim tudo o que não via há dois anos, mas, que estava com saudade uma vez que morava na capital e do prédio onde morava não tinha vista da natureza.

Tia Mari veio correndo secando as mãos no avental, rosto corado, seus cabelos presos, apenas uma mecha solta que teimava em cair. Seu sorriso era cativante e Bia olhando para ela pensou em como ela e sua mãe eram parecidas. Tia Mari era uma das irmãs mais velhas de sua mãe.Logo atrás dela vinha vindo tio Frederico, tio Fred, como Bia costumava chamá-lo, gostava muito dele, sempre tão carinhoso e brincalhão. Puxa tio Fred continua forte e grandão !-e mesmo Bia tendo crescido um pouco, a altura do tio era enorme se ele não fosse o “querido tio Fred” qualquer criança acharia que ele seria o “bicho papão”-pensou Bia.

Após o almoço os pais de Bia se despediram dizendo que voltariam dali uma semana e fizeram com que ela prometesse se comportar e ajudar no que fosse preciso.

Tão logo o carro se distanciou, Bia correu para seu saudoso balanço e ali passou horas se embalando com os olhos fechados e com o vento batendo em seu rostinho redondinho e meigo. Bia estava tão feliz e distraída que nem percebeu que estava sendo observada.

Correu pelo campo com os cães, subiu em árvores, deu de comer aos animais e quando viu que já estava escurecendo resolveu entrar, uma vez que havia prometido ajudar sua tia.

Tomou banho, jantou e dando um beijo nos tios foi deitar-se cedo, já planejava o que fazer no dia seguinte ao amanhecer, afinal queria aproveitar cada minuto e assim com um sorriso nos lábios Bia adormeceu.

Acordou com um barulhinho na porta olhou para a janela e viu que ainda não havia amanhecido. Derepente a porta de seu quarto abriu e uma figura grande e forte entrou, Bia não teve duvidas de que era seu tio, apesar do quarto estar na penumbra e resolveu fingir que dormia. Pensou com toda sua inocência que talvez seu tio estivesse ali para ver se ela estava coberta ou com sede, como seu pai fazia todas as noites.

Ele se aproximou e vagarosamente deitando por cima dela fez com que ela apesar da sua inocência, entendesse um pouco o que estava acontecendo. Bia não conseguiu se mover tomada pelo pânico e pelo medo. Sua cabecinha rodava, lágrimas encheram seus olhos, seu corpo e seu coração sangravam para sempre e ali naquele exato momento ela teve a certeza que ele realmente era um “bicho papão”!

Ele por sua vez sussurrou ao seu ouvido que se ela fosse boazinha ele lhe compraria um jogo de panelinhas para que ela pudesse brincar no outro dia.

Bia não tinha coragem de abrir os olhos, temia olhar aquele monstro que seu tio havia se transformado. Quando finalmente ele deixou o quarto não antes de dizer a ela que não contasse nada a ninguém afinal, sua tia estava doente e poderia morrer.

Bia continuou calada e ficou deitada chorando por horas e horas, queria ir embora... Queria fugir... Queria o colo de sua mãezinha.

...

Vinte anos se passaram e Beatriz trocou aquele jogo de panelinhas de plástico por panelas de verdade.

E ainda hoje Bia continua calada... Querendo apenas o colo de sua mãe!!

megh
Enviado por megh em 23/05/2007
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