CHICOTE DO CORPO

Era em torno das 6h40min da já ensolarada manhã daquela magnífica quarta-feira, dia 19/09/2012, quando me encontrava no consultório dentário de uma odontóloga da terceira idade.

Pessoa de fino trato, de bom coração, agradecida a Deus pelo privilégio de ter o seu consultório montado em sua própria residência e que me confabulava generalidades.

Enquanto eu me encontrava boquiaberto, deitado sobre a cadeira, ela me disse: “a sua língua devia estar raspando a todo instante sobre esse dente. A nossa língua é um órgão maravilhoso. Ela acusa tudo de errado que há em nossa boca, só erra quando olha para fora e se dispõe a falar da vida alheia”.

Como não podia falar, uma vez que me encontrava imobilizado, envolvi-me ali em algumas reflexões taciturnas.

Assenti que realmente a língua é a guardiã da nossa boca e porque não dizer, do interior do nosso corpo. Havendo alguma coisa errada em nossa boca, a língua toca aquele ponto, enviando mensagens para o cérebro. Enquanto permanecer aquela condição a língua mantém o fluxo de informação, até que o problema seja sanado. Além disso, esse poderoso músculo bucal, ao ter contato com alguma substância introduzida na boca, faz a pré-análise, mantendo o cérebro a par de tudo o que ocorre.

O cérebro, por sua vez, autoriza ou não que a língua continue o processo inicial de deglutição. Ou seja: o cérebro é o órgão que comanda a língua, para o bem ou para o mal.

Se isso é fato, sendo a língua apenas o veículo que conduz a nossa vontade interior, será então que ela é mesmo responsável pelas ofensas que proferimos, pelo que verbalizamos?

É muito comum ouvirmos coisas do tipo: “a língua é o chicote do corpo”. “Mas você hein, tem uma língua!” e tantas coisas mais.

Já que fizemos associação com o chicote, concito-lhe a uma reflexão: o chicote, por si só, é um instrumento inerte, não faz mal nem bem a ninguém. Ele apenas se torna instrumento da vontade daquele que o empunha. Por exemplo: se tem alguém em quem eu quero dar chibatadas, eu tenho que empunhar o chicote e fazê-lo. Esse instrumento não o faz ao próprio arbítrio. Por outro lado, caso haja alguém em apuros e eu tenha um chicote em mãos, posso utilizá-lo para que esse alguém a ele se agarre e se livre daquela situação. Portanto o chicote pode ser usado para o bem ou para o mal, dependendo do que é emanado da mente daquele que o detém.

Da mesma forma é a língua: ela se mantém ali para que seja feito dela o melhor uso. Se o impulso é para que profira o bem, é isso que acontecerá. Mas, se por outro lado, é a ela enviado comando para o mal, os estímulos emanados pelo cérebro, resultarão na propagação do mal.

Dessa forma, não é a língua o chicote do corpo e sim aquilo que reiteradamente pensamos e fazemos. Pois o que praticamos repetidamente, acaba moldando a nossa essência, determinando os nossos atos, o nosso presente e o nosso futuro.

Rafael Arcângelo
Enviado por Rafael Arcângelo em 14/10/2014
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