Que tal Miami?

_ Que tal Miami?

_ Miami? - respondi franzindo o cenho.

_ Sim.

_ Pra quê?

_ Pra gente morar depois que tivermos nossos três filhos.

Era noite de sexta feira, ventava muito e estávamos deitados sob um cobertor numa rede na varanda da casa dela. Namorávamos há pouco tempo, acho que uns quatro meses, mas esse tipo de assunto já era freqüente.

_ Por que lá?

_ Dexter. – Ela me olhou sorrindo. Retribui o sorriso e retruquei:

_ Só por que lá é onde se passa nossa série preferida, não quer dizer que seja um bom lugar pra morar. Que tal Califórnia?

_ Por causa de Hollywood?

_ Na verdade, pensei em: “Garota, eu vou pra Califórnia, viver a viver sobre as ondas, vou ser artista de cinema...”

_ Amor, como cantor e piadista, você é um ótimo escritor.

_ Ei, você adora me ouvir cantar essa música.

_ Eu adoro o LULU cantando.

_ Aff, adoro Califórnia. Podíamos morar perto da praia.

_ Que tal Nova York?

_ Vegas?

_ Londres.

_ Mas Londres fica na Inglaterra.

_ E daí?

_ Pensei que só valesse Estados Unidos. Aliás, você não acha muito cedo pra gente pensar nisso? – Ela deu uma gargalhada forte e respondeu:

_ Ah, é? E quem foi que leu poesia dizendo que não conseguia mais viver sem mim, no segundo encontro?

_ O que uma coisa tem a ver com a outra.

_ Sério, você me assustou naquele dia. Se não fosse tão bonitinho eu tinha desconversado e não teríamos um terceiro encontro.

_ É mesmo, mocinha?

Aquela conversa durou mais alguns minutos, já tava ficando tarde e eu precisava ir pra casa de ônibus. Ela me levou até a parada que ficava não muito longe de sua casa. Esperamos por mais quinze minutos, nesse meio tempo demos uns amassos na parede daquela parada vazia.

_ Lá vem seu ônibus.

_ É, lá vem. - fiz uma cara de "não quero ir".

_ Quando vamos nos ver de novo?

_ Amanhã a tarde?

_ Não dá, tenho aula de Saúde da Mulher.

_ Maldita aula de Saúde da Mulher. Você odeia, né?

_ Com todas as minhas forças. Quinta da pra você?

_ À noite?

_ Sim. Cineminha?

_ Perfeito.

Nos despedimos com um beijo e subi no ônibus, sentei do lado da janela e fiquei paquerando minha loirinha, do lado de fora do busão. Ela deu as costas para ir embora e antes do ônibus sair, ela virou pra mim e gritou:

_ Que você acha de Paris?

Adorava Paris, mas não deu tempo de responder, o ônibus partiu.

Gonzaga Neto
Enviado por Gonzaga Neto em 26/11/2014
Reeditado em 26/11/2014
Código do texto: T5048885
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