AS PONTES PARTIDAS (Trilogia da Ponte )

A pequena cidade tinha duas praças no centro, não eram bem praças, mas era assim que eram conhecidas. Uma era uma pequena rodoviária com oito linhas de ônibus, sendo quatro para a cidade mais próxima com diferentes trajetos e as outras para quatro cidades um pouco mais longe. A outra era uma avenida, com pouca extensão, divida por um pequeno canteiro com bancos e posteis com luzes. Na cidade havia dois cinemas na praça do canteiro, um passava filmes mais dramáticos, o outro passava filmes de aventuras, mais para jovens,

Os dois meninos que eram amigos e tinham 13 e 11 anos estavam na fila do cinema, naquele domingo iria passar “Maciste nas Minas do Rei Salomão” e “Santo Contra a Filha de Frankestein”. A fila começou a andar, eles pagaram as entradas, passaram pela roleta e compraram a pipoca. O cinema era grande e tinha uma parte no alto, mas só maiores de dezesseis anos podiam subir. Os dois amigos iriam consumir a pipoca durante o filme do Maciste porque no filme do Santo o cinema viria abaixo, todos adoravam Santo, o Mascarado de Prata e com certeza bolinhas de sacos de pipoca, de biscoito, tudo seria atirado lá cima no pessoal da parte de baixo.

- “Joga a mãe de perna aberta, filho da puta”.

Depois da sessão os meninos saíram do cinema alucinados, felizes, o domingo estava ganho, afinal Santo liquidou todos os bandidos com todos os golpes imagináveis. Eles foram até onde ficava o cartaz dos filmes da próxima semana.

- Semana que vem, é Bruce Lee. – Disse o menor.

- Não vamos faltar “Pequeno Grande Homem”– Disse o mais velho.

Os amigos compraram hotdog em frente ao cinema e foram caminhando em direção as suas casas.

- O que você vai ser quando crescer “Pequeno Grande Homem”?

- Quero ser professor, como meus pais, e você?

- Quero ir embora daqui.

- Pra onde?

- Um dia estava vendo televisão com minha avó, estava passando um filme, e apareceu uma estátua com uma tocha na mão, perguntei minha avó o que era e ela disse:

- Estátua da Liberdade.

- Onde fica?

- Em Nova Iorque, na América”.

- E então?

- É pra lá que eu quero ir, pra Nova Iorque. Lá não tem Exército nas ruas, eu não serei obrigado a estar em casa antes das 10 da noite. Lá os pais não somem como os meus. Lá não existe miséria, lá é o lugar dos sonhos.

- Será que é assim?

- Eu vou pra Nova Iorque “Pequeno Grande Homem”, é pra lá que eu quero ir.