Curtíssimos Contos da Desértica Curitiba ( Versão 2015 )
I
— não tem ônibus de novo!
—nem vou esquentar a cabeça. No ano passado gastei uma grana preta em táxi pra trabalhar enquanto os estagiários fizeram feriado as minhas custas e ficou tudo na boa. Ninguém me ressarciu meu dinheiro e nem um tapinha nas costas e um “obrigado” eu ganhei.
— e você ainda quer receber consideração nessa altura da sua carreira? Enlouqueceu?!
— E não é o mínimo?!
—(...).
II
— Babe, cê vai trabalhar?
—Acho que não. Ontem exagerei no vinho e se tenho uma desculpa vou usar.
—Maneiro. Também vou ficar. Quem sabe a gente faz um amorzinho gostoso e aconchegado mais além...
—Esse é realmente uma boa ideia, babe...
III
— Nem vou abrir a loja hoje. Não tenho ninguém agendado. Ninguém me ligou. Tá esse calor miserável. Tomei um prejuízo ontem e ainda por cima peguei um playboy que me deu um trabalho desgraçado numa tatuagem celta que fiquei aberto até quase onze da noite e sem ônibus nesse horário nem táxi tinha. Puta que o pariu! Acho melhor abrir a primeira cerveja e amarrar uma boa bebedeira que eu ganho mais...
IV
—Agora eu queria achar um eleitor desses dois filhinhos de papai do cacete que deixaram a greve desandar e quem toma no rabo é contribuinte e o trabalhador que ainda leva desconto porque não tem condução pra chegar na sua empresa!
— E ainda por cima receberam um reajuste de quatro contos e trezentos, coisa que gente honesta não recebe!
—Que dupla de filhos da puta, não?
— E no Brasil quem não é?
— Já dizia o Nelson Rodrigues que nesse buraco de merda todo mundo é “Peixoto”...
—Esse maluco sabia das coisas mesmo!
Curitiba, 27 de janeiro de 2015, segundo dia da greve do transporte coletivo, 32 graus célsius, Verão.