Mais uma noite

Passava mais uma noite acordada, olhando para o mundo, sentada em sua varanda. Não estava triste, feliz, apenas estava só, quieta como se não existisse. Mas algo em seu interior, bem no fundo de sua mente a incomodava. Talvez fosse a insônia, o desânimo, ou a falta de vontade de encarar as pessoas.

E ela sabia que em breve teria outra crise, outro ataque de pânico, como consequência da solidão que escolheu para si. Todos tinham lhe abandonado, desistiram de ajuda-la. Primeiro seus irmãos, depois seu namorado, e por ultimo seus pais. Não valia mais a pena lutar por ela, sentia-se frustrada em preencher as expectativas de melhoras que não apareciam. Um por um, foram se distanciando. Pela primeira vez estava completamente só.

A cidade estava silenciosa, há algumas semanas havia parado novamente com os medicamentos, talvez por isso estava com a cabeça cheia de pensamentos. Eram tantos que doía. Acendeu um cigarro, olhou a altura de uma possível queda, mas não terminaria com isso esta noite.

Olhou o estilete sobre a escravinha, a quanto tempo não se cortava? A quanto tempo não trocava os pensamentos que lhe doíam a alma, pela dor física? A dor foi a única coisa que libertou sua mente, por alguns minutos pelo menos. O sangue quente que escorria, era relaxante. Foi apenas um movimento, simples mas preciso, doce mas forte.

Abriu um sorriso ao sentir a dor, com o cigarro na boca, o sangue escorrendo pelo braço, resolveu pegar o telefone e ligar para alguém. Logo iria sentir-se bem, tudo o que precisava era de um pouco de dor e uma bela foda.

Stephanie Louise de Sá
Enviado por Stephanie Louise de Sá em 15/02/2015
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