O Primeiro Amor.

O PRIMEIRO AMOR.

Meu verdadeiro nome não é importante, me chamem apenas de Joranes, sou filho de um simples homem do campo, que durante a vida toda trabalhou para dar aos seus filhos o que de melhor estivesse ao seu alcance, e assim ele o fez, fomos criados aprendendo a respeitar e a amar o nosso próximo. Tivemos uma educação religiosa muito boa, íamos à igreja todos os domingos, toda a família reunida, meu pai fazia questão da família estar unida. Com nossas bíblias embaixo dos braços e de mãos dadas com os irmãos menores, caminhávamos cerca de meia hora em estrada de terra até chegar ao local da igreja.

A igreja onde congregávamos era muito humilde, não tínhamos alguns privilégios como as outras igrejas mais perto da cidade. O chão era de terra batida, os bancos de tabuas velhas, as paredes descascadas e faltando pedaços no reboco dava a pequena igreja um aspecto de abandono, se bem que de certa forma, estávamos meio que abandonados ali naquele local. A grande diferença daquela igreja em relação às demais do nosso campo era o coração e a entrega das pessoas que ali estavam o amor do ancião com todos ali, e a simplicidade daquele povo realmente comovia.

Assim eu cresci, ouvindo a palavra do evangelho, seguindo a doutrina de Cristo, mas o tempo passa rápido, voa sem percebermos, a infância ficou para traz, meus irmãos se casaram somente eu e minha irmã caçula ficamos na casa de nosso pai, tudo estava bem, até que chegou a adolescência, e junto dela todas as complicações que um adolescente enfrenta, eu pensei que pudesse resolver meus conflitos sozinhos, sem a intervenção de meu pai, eu queria demonstrar que já era adulto e que podia resolver tudo sozinho. Foi a pior decisão da minha vida, não pedir ajuda de meus pais.

Foi no período da escola que comecei a minha trajetória decrescente, indo cada vez menos na igreja e dando mais atenção aos amigos que a meus pais, comecei a sair em pequenas festas, àquela velha historia de querer agradar aos amigos, depois de uma festinha veio outra, e com outra a minha primeira experiência com bebidas alcoólicas. Meus pais percebendo meu distanciamento dos cultos, e cada dia chegando mais e mais tarde em casa, vieram às primeiras brigas como consequência disso, eu brigava com meus pais, comecei a dar mais atenção aos meus amigos de bar, porque neste período eu frequentava vários bares.

Como somos inconsequentes, e como fazemos com que os nossos pais e verdadeiros amigos sofram, muitos conselhos foram dados e nenhum foi seguido, pessoas da igreja e até o ancião veio me aconselhar, meu coração estava endurecido, era como o mármore, duro e gelado. Mas Deus tem as suas formas de trabalhar, ele nos deixa ir ate um determinado momento, mas logo trata de nos trazer de volta, tal como a ovelha que se perde, assim eu me perdi, e tudo por minha culpa, minha tão grande culpa, eu escolhi o caminho das bebidas e da prostituição, saia com varias mulheres na mesma noite, mas Deus havia traçado um plano de retorno para mim, e ele estava próximo de mim.

O brilho encantador que vinha dos olhos daquela linda jovem mexeu comigo não dei tanta importância, mas acabamos por sair mais vezes, e em uma dessas vezes tivemos relação sexual, ela era filha de um renomado pastor, e como eu colhia nas noites o fruto da desobediência e das escolhas erradas, daquele encontro veio uma gravidez, e foi através dessa gravidez que Deus começou a nos puxar daquele lamaçal de pecados, uma nova vida estava a caminho, uma inocente criança que mudaria as nossas vidas para sempre.

Quando eu descobri que ela estava gravida confesso que tive muito medo, mas se tem uma coisa que não sou é covarde, e já estava no momento de tomar uma atitude, de ter responsabilidade, de voltar a traz, ao primeiro amor, a igreja de Cristo. Tomamos a decisão juntos de nos dirigirmos ao pai dela, acabei descobrindo um lado desconhecido daquele que se dizia homem de Deus, não foi fácil de convencê-lo a dialogar comigo, e nem foi na primeira vez, sua filha me dizia que ele escondia um facão no carro, e com ele tiraria minha vida.

Nesses momentos difíceis é que nos lembramos de Deus, e para isso que serve essas lutas, é para levar o homem ao arrependimento e de joelhos nos chão clamar pelo seu perdão. Foi assim que aconteceu, de joelhos diante de Deus primeiramente e depois diante daquele homem, com uma falsa capa de servo de Deus, na minha inocência não percebi que aquele homem tinha um desprezo muito grande para com a família, sua vida girava em torno de um cargo no ministério da sua igreja, e para defendê-lo desprezaria os que mais o amavam, meus pais muito se alegraram com meu retorno, receberam com muito carinho a minha futura esposa, deram a ela o amor que os pais dela nunca a deram.

Começava ai a segunda fase do meu teste, agora na igreja deste pastor, com o sorriso estampado na face, eu vivia feliz com minha esposa, morávamos na mesma casa, eu minha esposa, a nossa pequena princesa, o pastor e seus dois filhos. Eu não tinha emprego fixo, trabalhava de bico, mas era feliz, embora percebesse o crescente desprezo de meu sogro não dei bola e segui com a vida, mas eu estava prestes a levar uma punhalada em meu coração, meu sogro relevaria sua verdadeira natureza, e Cristo honraria a minha pequena pessoa.

Pouco tempo depois consegui um emprego e o pastor cedeu-me uma casa muito boa, embora eu pagasse um aluguel simbólico que não condizia com o real valor da casa, que por sinal seria um valor que eu não teria condições, durante o período em que eu frequentava os cultos nessa igreja onde meu sogro era o vice-presidente do campo, comecei a notar que os olhos e o coração do pastor eram apenas para o seu cargo, seus caprichos e atenção eram para as pessoas de fora, a família que éramos nos ficávamos em segundo plano.

Neste período difícil e de desprezo, conheci uma pessoa que fazia parte da minha antiga igreja, a que meus pais frequentam meu coração inocente não havia percebido que entre os membros daquela igreja do meu sogro e os da igreja de meus pais, existia uma antipatia muito grande, chegando até a beira do ódio, pasmem, mas é isso mesmo, eu nunca imaginei que isso existisse entre pessoas que diziam amar Cristo, e não suportavam o seu próximo. Quando o meu sogro descobriu que eu estava indo na minha antiga igreja e não na dele, ele teve um surto de ódio, que o cegou de tal forma a ponto de nos expulsar da casa em que ele havia nos arranjado.

Minha amada filha, a neta desse pastor, uma criança inocente, uma alma pura e cheia de vida que deveria de ser amada por todos, indiferente das nossas tolas diferenças, nem da própria neta ele teve compaixão, deu-nos um prazo, e se não fosse cumprido meus moveis seriam jogados na rua, minha esposa estava arrasada, deprimida com a atitude dos pais, saímos dali humilhados, e justamente ai o desemprego bateu em minhas portas, chorei, clamei, fiz o que um Cristão de verdade deve fazer, o perdoei.

Agora de volta para perto de meus pais, acolhido pelo amor deles, e pelo amor dos irmãos da igreja, retomei meu caminho, aos poucos Deus me restituía o que tinha perdido, uma belíssima porta de emprego se abriu para mim, aluguei uma boa casa, comprei um automóvel, e sego a minha vida tranquilamente. Aprendi uma linda lição, amar a todos, independente de sua religião, de sua cor ou raça, aprendi a perdoar, e que é melhor dar o outro lado da face do que levantar a mão para agredir injustamente. Amo o meu sogro e os membros de sua igreja, mesmo estando em outra da qual eles não toleram, ganhei o respeito dele e o respeito de todos os que me conhece, afinal nunca é tarde para se retornar ao primeiro amor.

(História baseada em fatos reais.)

Tiago Pena
Enviado por Tiago Pena em 02/03/2015
Código do texto: T5155805
Classificação de conteúdo: seguro