"Conto Urbano Demasiado Humano"

Era de uma beleza ímpar.

Desde que nasceu. Dona de olhos verdes esmeralda amendoados, o corpo perfeito, curvas longilíneas & dotada de um sorriso encantador era de matar! E como se tudo isso não bastasse era meiga, educada, inteligente e sincera. Se ela fosse com a sua cara ela lhe diria isso. Se não ela lhe diria também. Em casa mimada pelos pais e parentes, Emanuelle era o orgulho daquela família tradicional das “Araucárias”. Na escola todos queriam fazer parte da sua turma. Quando criança era convidada para todas as festinhas. Quando cresceu também. Era companhia agradável e sua conversa fluía fácil. Era espirituosa e divertida. Claro que a marmanjada babava e o mulherio ficava vermelho de inveja. Era dona de seu nariz. Formada & pós-graduada tinha passado em concurso público e ocupava um cargo legal com um salário muito atraente. Tinha seus paquerinhas, óbvio, contudo nada de mortalmente sério. Ia levando e fazendo seu pé-de-meia. Utilizava o transporte público, era politicamente correta. Reciclava o seu lixo. Tentava ser vegetariana e não encanava com essas frescuras de “peso”. Nem precisava. Era perfeita, se perfeição existe nesse plano. E tinha nome de filme clássico. Era Emanuelle.

Uma bela manhã de setembro ensolarada e gélida estava aguardando o coletivo na Manoel Ribas, defronte o Bar da Lili. Interbairros I. O que a levava todos os dias para a repartição. Dava “bom-dia” ao motorista e a cobradora loura todos os dias com seu sorriso de dentes brancos e perfeitos. Sempre atraente e olorosa e bem vestida. Nessa manhã em particular um carro importado parou o condutor lhe ofereceu carona. Como estava acostumada com esse tipo de situação recusou a oferta com simpatia e desenvoltura. O bólido se foi e três minutos depois voltou em disparada e brecou na sua frente. O motorista apontou-lhe uma pistola de grosso calibre e ordenou que entrasse no veículo. Nove e quinze da manhã. Ela obedeceu para não piorar a situação. Dois dias depois a família registrou uma pessoa desaparecida. A polícia então iniciou a investigação e passou a usar a hipótese de sequestro. Muitos dias depois um corpo nu, brutalmente torturado e violentado foi encontrado. O casal que chamou as autoridades em princípio achou que era uma boneca inflável dessas que os mais tímidos compram via internet, contudo uma olhada mais acurada mostrou que era humana. Ou um dia talvez tivesse sido. Assim se foi Emanuelle, despida, violada, com uma bala na cabeça e múltiplos suplícios. Ela se foi sem o amor desse mundo. Se é que isso realmente existe...

Curitiba, 11 de março de 2015, 26 graus célsius, fim de Verão.

Geraldo Topera
Enviado por Geraldo Topera em 11/03/2015
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