Angústia.

ANGÚSTIA.

A noite veio rápido, envolveu o dia com seus braços longos, e de repente tudo se fez trevas. A dama da noite com majestoso brilho despontou no horizonte escuro arrodeada de estrelas cintilantes, a coruja do alto do pinheiro, observa tudo atentamente, ao iniciar seu turno noturno. Aos poucos os grilos iniciam os seus cânticos, de um lado e de outro da floresta, uma orquestra ensaiada com maestria, e junto dessa euforia gritante, os sapos também entram na festa, essa é as primeiras oras de uma noite de sexta-feira, observo pensativo o show da vida, encenada pela mãe natureza.

Sentado a beira do riacho das pedras, contemplo o avolumar da lua nas corredeiras do lago, em meu peito uma dor aguda cresce uma angústia que parece não ter fim, quanto mais lembranças têm da sua partida, mais dores vêm na alma. Lembro-me perfeitamente do dia em que você partiu dos teus lindos olhos me deixando, que triste dia foi aquele, meu coração se partiu no meio. Era uma sexta-feira de um doce novembro, eu bem me lembro, o sol brilhava com intensidade no meio do céu, e lá estava você, resplandecente como nunca antes, tão bela quanto uma rosa, tão divina quanto um anjo ledo, seus olhos cheios de vida irradiavam o amor, o mais puro amor.

Quanta beleza em uma só mulher me encanta o doce movimento de seus perfeitos e tão bem esculpidos lábios, lábios de mel, criados com a finalidade de enlouquecer os mortais, admiradores de sua candura angelical. E lá estava você, como é difícil ficar recordando, você ali sentada no saguão, aguardando o momento de partir para o outro lado do mundo, distante de mim, distante de meus olhos que agora choram.

Eu que a vi crescer, desabrochar como o botão de uma rosa, eu a vi ser desejada e por muitos ser cortejada, uma joia cobiçada por tantos homens, eu que vi o seu primeiro beijo de amor, na praça que ficava de frente da escola, escondido atrás de uma árvore, chorei por não ser os meus lábios a provarem dos teus beijos pela primeira vez. Tornei-me o seu melhor amigo, te confidenciei os meus maiores segredos, e atentamente ouvia os teus, que no cofre do meu peito os cerrei, eu que te dei o ombro amigo quando você queria chorar, eu que te dei os meus sorrisos para te alegrar, fiz tudo por você e nada te neguei, eu que deveria ter te contado que estava apaixonado nada falei.

O tempo passou e eu sofri em silencio, escondi de todos essa grande paixão, minha falta de iniciativa e o meu medo, criaram uma barreira que me impedia de me declarar, que tolo eu fui, mas houve um dia que outro alguém entrou em sua vida e conquistou o seu coração, tempos depois ele te levou ao altar, e lá estava eu, sofrendo calado, morrendo por dentro, sem ter o que fazer me afastei de tudo e de todos, para este pedaço de terra chamado solidão, terra de angústias, terra de ninguém.

E lá estava você, sentada no saguão do aeroporto aguardando a ora do voou, duas grandes malas ao seu lado, de repente chega o seu esposo, em uma das mãos um buque de rosas, e na outra um bonito presente. De longe eu observava tudo, os últimos instantes da sua presença, a última lembrança sua, os meus olhos em lágrimas silenciosas diziam adeus.

Hoje eu vivo solitário, somente o Agenor meu empregado morra comigo, ganhei dinheiro e fama, mas não o que eu mais desejava que era o amor de Berenice, eu que deveria ter me declarado, eu que deveria ter lutado pelo amor, mas o que eu fiz foi justamente o contrario, escondendo-me no casulo da covardia e do medo, perdi o maior tesouro que um ser humano pode ter, tesouro esse que nem toda a minha riqueza pode comprar, a riqueza de amar e ser amado, por isso me despeço do mundo, lamento por ter sido fraco, Adeus Berenice, amor da minha vida.

Neste momento ouve-se um estampido vido do fundo da casa do fazendeiro Bernardo Antunes. Agenor que era o seu empregado há tantos anos desce correndo para os fundos da casa do fazendeiro, ao descer as escadas de madeira que da para o riacho, vê a terrível sena, Bernardo não sofre mais, seu corpo ensanguentado está estendido no chão, em uma das mãos um revolver trinta e oito, e na outra esta carta de despedida, escrita por seu próprio punho, e selada com o seu próprio sangue. Bernardo não tinha filhos e nem familiares ainda vivos, em seu testamento, deixou toda a fortuna ao fiel amigo de longas datas.

Tiago Pena
Enviado por Tiago Pena em 16/03/2015
Código do texto: T5172373
Classificação de conteúdo: seguro