Noiva em fuga

Luíza corria enlouquecidamente. Parecia querer fugir de algo. Talvez algo que estivesse dentro dela. Algumas vezes olhava pra trás, o que a fazia chorar. Em outros momentos, ela simplesmente seguia em frente. Ela passava por ruas e avenidas e, em algumas delas era chamada de louca, esquisita, medrosa, entre outras coisas. As pessoas não entendiam os motivos da fuga, mas ela sabia os porquês. Vários fatos vinham a sua mente; desde o dia em que se sentiu rejeitada na infância até o momento em que a rejeição ganhou maioridade. Luzia sabia que não importava o que as pessoas diziam, mas sim como ela se sentia diante das palavras e atitudes alheias, que por sinal, lhe traziam peso ao coração. Enquanto corria, ela via tudo isso passando diante de seus olhos e não conseguia conter as lágrimas. Seu vestido branco foi ficando gradualmente cinza até atingir o tom mais escuro possível. E aos poucos, a jovem Luíza foi se transformando. Lembrou-se dos conselhos de uma antiga amiga, que dizia que algumas coisas acontecem para que mudemos por dentro e nos tornemos mais fortes. Então, a corrida continuou. O suor que escorria por seu rosto se misturava às lágrimas, que iam secando por si. O sol brilhava fortemente no céu, como se protestasse contra sua tristeza. Era o mesmo sol que ela tinha por dentro; aquele que lutava para que a corrida acabasse. Passando por becos e vielas, ela foi percebendo que as pessoas não tinham rostos. Ela apenas via silhuetas; tinha visão embaçada e suas pernas doíam muito àquela altura do campeonato. Mesmo assim, ela continuou fugindo e no meio do caminho, ela parou para descansar um pouco. Acreditava que poderia ter uma trégua do que a perseguia, mas logo aqueles sentimentos voltaram e, quando algumas pessoas tentaram se aproximar, ela se esquivou e fugiu novamente. Voltou a correr por aquelas ruas; algumas, estreitas, outras largas. Algumas, suas, outras, não. Até que, ao cair da noite, Luíza chegou à porta de uma igreja e ali estava um rapaz. Eles se encararam por um tempo e começaram a conversar com os olhos. Ela percebeu que no olhar dele havia certo encanto. Seu sorriso era largo como o de um príncipe de contos de fadas. Sua voz era suave e, ao mesmo tempo, segura. Ele tinha tudo para deixá-la apaixonada; caída a seus pés. Antes que isso acontecesse, ela saiu em disparada, sentindo-se um pássaro fugindo da gaiola. E foi livre para sempre.

Tom Cafeh
Enviado por Tom Cafeh em 17/04/2015
Reeditado em 29/11/2019
Código do texto: T5210790
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