Vale a pena deixar a autopiedade pra lá.

Estava vivendo meio morta.

Estava apenas existindo.

Não reconhecia mais os sinais, não fazia mais questão de encontrar um sentido no mundo, muito menos um motivo para estar nele, ainda. Estava levando seus dias sobre esse chão em banho-maria.

Estava esperando, resguardada, alguma coisa da vida - qualquer coisa.

Ignorava qualquer tipo de ajuda ou consolo. E sentia-se mil vezes pior depois. E entrava em conflito consigo mesma novamente.

Fingia muito bem que não precisava deles, pra mais tarde regar o travesseiro com suas lágrimas.

No fundo sempre existia um resquício de teimosa esperança. O mesmo que a fazia continuar a existir e a chorar as dores de não viver.

Sem saber, ela também regava os botões em flor de calma e força que sempre moraram em seu coração.

Estava sentindo vontade de gritar. Gritar para que a deixassem em paz, que parassem de tentar interpretá-la o tempo todo segundo seus conceitos tão certos. Gritar que ela era mesmo errada, que não era uma porra de um cubo mágico, projetado para se encaixar. Queria que todos soubessem que essa dor era dela, só dela, e que ninguém podia entender. Mas gostaria muito que alguém tentasse, de verdade.

Queria ser amada por alguém que constatasse o óbvio. Que ela não era uma merda de um conceito, objeto de estudo nem um desafio. Apenas uma pessoa que no meio tempo entre nascer e morrer, não sabia ao certo o que fazer. Só uma garota procurando por sua paz de espírito.

Queria descansar com seu cigarro, cotovelos apoiados na janela, mentalizando um foda-se bem grande e sonoro pra esse planeta todo. O vento soprando como quem diz "continue, continue". E ela se perguntando: mas será que vale a pena?

Muito tempo depois descobriria que sim e sorrindo, se sentindo meio pateta, descobriria também que só ela poderia ter respondido a sua pergunta. Só ela mesma poderia fazer valer a pena. E fez.

Escrito em 02/04/14, reeditado hoje (18/04/15)

Thainá Mocelin
Enviado por Thainá Mocelin em 18/04/2015
Reeditado em 18/04/2015
Código do texto: T5211526
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