NADISMO, DO IMPROVÁVEL AO POSSÍVEL

À guisa de uma definição simplista, “nadismo” poderia ser traduzido como: “a arte de não fazer nada”.

Isso mesmo. Dedicar certo tempo para não fazer absolutamente nada, inclusive pensar.

Um desafio e tanto para esses tempos de correria e agitação ao qual estamos submetidos no cotidiano.

Mas vale ousar, fazer acontecer, tornar possível.

Muita gente já descobriu essa atividade que, embora se assemelhe à meditação, ambas são bem distintas.

Conceitos e divagações à parte, o fato é que resolvi convidar alguns familiares a experimentarem a atividade. Uma tarefa não muito fácil, haja vista que, quando nos reunimos é difícil conseguirmos alguns instantes de silêncio para algum recado ou homenagem pretendidos.

Acreditei que seria possível e lancei o desafio à família. Vários afirmaram que participariam, outros não se manifestaram e o evento foi confirmado: feriado de Tiradentes – 21/04/2015, às 8h30, em um local apropriado, previamente definido e divulgado a todos.

Apesar de certo atraso, decorrente do descompromisso com os horários, próprio de nós os brasileiros, uma vez reunidos os participantes, dirigimo-nos ao local pretendido.

Tratava-se de um terreno com grama bem cuidada, sob a copa generosa de uma árvore, que nos proporcionava sombra e uma leve brisa de um dia outonal, o que contribuiu sobremaneira para o nosso bem-estar e para a prática pretendida.

Compondo o cenário, à nossa frente uma lagoa com dezenas de patos, alguns marrecos e muitas carpas se movimentando no espelho d`água. Uma vegetação diversa, várias outras árvores e o silêncio quebrado pelos sons dos quero-queros e do chilrear de diversas e invisíveis outras aves.

Éramos: dez adultos, um bebezinho de pouco mais de três meses e três cachorrinhos de pequeno porte e de raças variadas.

Programamos o cronômetro para 30 minutos e iniciamos a atividade, ou melhor, inatividade.

Embora o infante tenha cooperado, talvez influenciado pela sobriedade daquele ambiente, os cãezinhos não se dispuseram a isso. Não se submeteram a essas maluquices dos humanos e se aproveitaram da situação.

Enfim, passada a meia hora proposta, percebemos que havíamos conseguido um feito nunca antes experimentado: estando em um grupo de pessoas tradicionalmente agitadas e barulhentas, não falar nem fazer nada, por trinta longos minutos.

Como prêmio, seguiu-se um opíparo piquenique proporcionado pela contribuição de cada um e por lá permanecemos ainda por mais duas breves, amenas e prazerosas horas.

Rafael Arcângelo
Enviado por Rafael Arcângelo em 22/04/2015
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