A melhor ideia da minha vida

Uma e meia, essa era a hora que marcava no celular de Carlos. Já faziam três dias que ele não conseguia dormir antes das quatro da manhã. Sua cara estava uma merda só. Sentou na beira da cama e olhou para a janela, era uma noite sem lua e sem vento, onde o único barulho que dava para se ouvir era do ventilador de teto do quarto. Voltou seu olhar novamente para a cama, ao seu lado, Laura dormia tranquilamente. Para não acordá-la levantou-se devagarzinho e abriu a porta do quarto, precisava comer alguma coisa. A cozinha não era muito espaçosa: um fogão, uma geladeira azul, algumas prateleiras e uma mesa pequena, daquelas que encontramos nos botequins da periferia.

_ Puta merda, essa geladeira tá fedendo. Amanhã eu vejo com a Laura se tem alguma coisa estragada.

Ele pegou um leite de caixinha já aberto e tomou. Logo após, abriu um pote de biscoitos que estavam na prateleira de cima os levou para sala. Na televisão não passava nada que prestasse naquela hora, a melhor coisa que ele fazia era escrever. Ligou o computador, abriu o bloco de notas e o navegador da internet. Começou a fuçar alguns sites e esqueceu mais uma vez de começar a escrever o livro que ele dizia ser “o divisor de águas da minha carreira”.

_ Esse livro vai ser um marco na história da literatura brasileira. Tipo, Matrix ou a quinta temporada de Breaking Bad.

Laura não costumava dar corda para as coisas que o Carlos falava, ela sabia que ali existia talento, mas sua preguiça e aquela mania chata de adiar as coisas fazia com que ele não passasse de um escritor meia boca.

_ Que tal começar pelo título? Não. O título é sempre o último. E se eu pensar em um final espetacular? Pior que nem tenho um começo. Acho que vou dar uma pesquisada nas tendências da literatura para o ano.

Lá se foram mais duas horas.

_ Acho melhor ir dormir, a Laura vai querer lavar a casa amanhã e vou ter que acordar cedo para ajudar.

Ele desligou o computador e foi se deitar. Na cama, uma epifanía. Como um filme, toda a ideia do livro começou a desabrochar em sua mente. Como não pensará nisso antes? Aquilo era tudo o que ele precisava para deixar a sua marca na literatura nacional, quem sabe, até mundial. E realmente a história era muito boa, uma pena mesmo foi ele ter dormido antes de anotar qualquer coisa.

Gonzaga Neto
Enviado por Gonzaga Neto em 02/05/2015
Reeditado em 17/05/2015
Código do texto: T5227654
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