A Morte da Borboleta

Quando era mais novo, um dia, na escola, sentei em um canto bastante isolado do pátio durante o intervalo e fiquei ali esperando o tempo passar enquanto os outros faziam algazarras. Eu desde sempre fui abatido pela minha preguiça de existir.

Sentava abraçando meus dois joelhos, me encolhendo, eu preferia e prefiro passar despercebido. O Sol estava brando mas já estávamos no outono, de forma que ele oferecia uma luz morna muito agradável. Havia uma pequena borboleta amarela no chão, próxima aos meus pés, agonizando. Ela batia as asas lentamente, fazendo um enorme esforço para as abrir e fechar, abriu e fechou as asas por alguns minutos, todos do curto intervalo, mas não consegui deixá-la ali, algo me prendeu aquilo uma tal forma que nem me dei conta que já havia acabado o intervalo. A borboleta estava nas últimas, depois de um último bater lento das asas rolou para o lado e ali, sufocada pela morte, se resumiu a fazer poucos movimentos, debilitada, em seus olhos a procura por algo mais, a esperança do que viria a seguir (e o que há depois da morte para um reles inseto?), até que finalmente, parou de se mover.

Somos todos expectadores da morte. Depois de tanto desespero e medo, a borboleta enfim parecia em paz, quieta, complacente e ainda sim exalava toda beleza amarela que tinha. Me entristeci por aquele pequeno inseto. Nós éramos iguais, eu de alguma forma também estava esperando a morte.

O sinal tocou e me dei conta que além do intervalo já havia perdido toda aula de física. Com sorte, nenhuma inspetora perceberia que não compareci a aula. Abandonei minha semelhante e voltei para sala de aula, agora minha preocupação era com a matemática.

A vida sempre insossa.

Vinícius Risério Custódio
Enviado por Vinícius Risério Custódio em 15/05/2015
Reeditado em 15/11/2015
Código do texto: T5242849
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