Visão da alma

Depois de muitos anos na escuridão, ela estava prestes a ver a luz. Entretanto, por sua profunda sensibilidade, ela vivia em um universo particular, onde as pessoas eram boas e a tratavam com respeito e não com pena, já que ela era capaz, apesar de tudo. Até então, não vira a luz do sol, mas podia sentir seu calor. Tampouco vira o imenso mar, mas já havia entrado nele algumas vezes (obviamente acompanhada) e sentido o abraço materno de Iemanjá. O rosto de seu marido também lhe era uma incógnita. Apenas o imaginava, mas podia sentir seu toque, seu cheiro... E naquele dia ela finalmente poderia vê-lo, mas ele sentia certa insegurança. Temia que ela se decepcionasse a ponto de deixá-lo. Então, imaginando-se ir a um encontro às cegas, ele vestiu sua melhor roupa, penteou os cabelos ondulados, perfumou-se e foi para o hospital. Chegando lá, ele viu uma menininha correndo pelo corredor em sua direção. Usava uma roupa branca e tinha cabelos loiros encaracolados e olhos azuis. Ele levava consigo um saco de cookies e um buquê de rosas. Deu um doce para a criança, que lhe agradeceu com um sorriso largo. Mais a diante, ele viu um menino de cabelos negros e também de branco, que lhe perguntou as horas. Ele logo respondeu e o menino, percebendo sua expressão de preocupação, aconselhou que ele não ficasse ansioso, pois tudo daria certo. O menino saiu correndo e o homem continuou andando. Quando chegou à sala onde sua esposa estava, ele tinha outra expressão no rosto. Parecia muito calmo, ainda que a insegurança estivesse latente. Enquanto olhava para o lindo rosto de sua esposa, ele se lembrou de quando se conheceram. Lembrou-se das conversas que tiveram no ônibus, dos primeiros encontros, do encanto do início... Dali a pouco o médico entrou e começou a tirar as ataduras. Ambos se sentiam ansiosos. Os corações batiam forte e o momento pedia uma música romântica de fundo. Ela foi abrindo os olhos, deixando que sua visão captasse aquele rosto cansado, mas cheio de alegria e emoção. As lágrimas rolavam de seus olhos e, ela ficou observando o que vinha sentindo e tocando há algum tempo. Eles se abraçaram e ele sussurrou ao seu ouvido que temia ser rejeitado. Ela sorriu docemente, tecendo-lhe elogios apaixonados e lhe disse que poder vê-lo era um grande presente, mas que já o enxergava há bastante tempo e que o mais importante era a beleza de seus gestos como um todo. E, quando se abraçaram, mais e mais imagens lhe foram apresentadas. E no dia seguinte ela teve alta e eles foram à praia para que ela pudesse contemplar aquele ambiente mágico. Aquilo fez com que ela não coubesse em si de felicidade.

Tom Cafeh
Enviado por Tom Cafeh em 19/06/2015
Reeditado em 20/06/2015
Código do texto: T5283077
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