Resignação

Resignação

Às vezes a vida insiste em nos ensinar e nós insistimos em não querer aprender. Foi a conclusão daquela Vênus em Virgem que, de uma hora para outra, resolveu buscar o que sempre esteve escondido dentro dela. E lá estava a Vênus procurando sarna pra se coçar numa fria noite de inverno. Ao invés de investir num delicioso chocolate quente, ela resolveu ficar diante de uma tela. E tão fria quanto a tela eram as intenções de quem estava por trás dela. Pena que a boba Vênus demorou a perceber isso. Foram meses conhecendo um pouco de tudo que há no mundo: psicóticos, gente decente, gente interesseira, gente desinteressada, gente interessante... Todos estavam lá para ela, que havia se esquecido de seu livre arbítrio e resolveu, depois de certo tempo, culpar a vida por suas escolhas fracassadas. E muitas lágrimas foram vertidas, e vários homens lhe conheceram, e poucos foram os que a quiseram e apenas um ficou. Ficou por acreditar nela e saber que havia muito mais do que os olhos poderiam ver. Infelizmente esse homem demorou a aparecer e, até que isso acontecesse, a Vênus sofreu muito. Os primeiros dias foram de total descoberta. Queria perder o que lhe havia sido dado, sem saber que juntos se perderiam sua inocência e a crença na humanidade. Sem dúvida, a Vênus teve bons momentos e soube aproveitá-los, mas por querer mais, ela sentia que nada de bom lhe havia acontecido. Sentia-se injustiçada e inferiorizada por pessoas que simplesmente não estavam dispostas a lhe dar o que tanto almejava. As desculpas eram as mais diversas e, enquanto ela estava no turbilhão, ela não enxergava o óbvio. E como um louco batendo a cabeça na parede, ela tentava, tentava, tentava... E quanto mais tentava, mais a vida ria em sua cadeira de balanço. Ria de sua imaturidade, de sua falta de fé, de sua baixa auto-estima, do absurdo em acreditar que sua felicidade estava em mãos alheias. Parece cruel, mas aos poucos a Vênus foi entendendo como as coisas funcionavam. Ela parou pra pensar que se desistisse, as coisas mudariam. E estava certa. Desistir foi o melhor verbo a ser conjugado àquela altura do campeonato. Ela começou a entender que a palavra certa para sua vida era resignação e passou a aceitar o que a vida lhe dava, valorizando cada momento de alegria e prazer. Descobriu que cada um tem seu tempo e sua sina e parou de comparar a sua com a dos outros. Foi então que a vida, percebendo isso, resolveu trazer estabilidade a sua vida afetiva. Assim, a Vênus conseguiu entender que poderia escolher, ao invés de ser escolhida, tornando-se mais seletiva, conseguiu perdoar os outros por saber que havia tido responsabilidade por tudo que passara e que também não era perfeita (talvez fizesse o mesmo no lugar daquelas pessoas) e que os acontecimentos desagradáveis acabam se transformando em experiências, as mágoas acabam se transformando em oração e que amor próprio deve vir antes de qualquer outro.

Tom Cafeh
Enviado por Tom Cafeh em 20/06/2015
Reeditado em 22/06/2015
Código do texto: T5283647
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