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AMIGAS
 
 
Luísa lavou o rosto, enxugando as lágrimas que há muito teimavam em cair.
Ouviu o toque da campainha e no vídeo de porteiro viu que era a sua amiga Júlia.
- Posso subir?
Luísa hesitou um pouco na resposta, não queria que a outra a visse assim. Depois decidiu-se, carregando no botão do trinco.
- Sobe.
Passados alguns instantes Júlia empurrou suavemente a porta de entrada e viu a amiga encostada à parede, muito pálida, os olhos vermelhos de choro.
- O que tens?
Luísa apontou para a mesa de centro onde repousava uma folha de papel branca.
Júlia estendeu a mão, pegou no papel e leu. Ficou pálida, consternada.
- Oh… Querida… Já tens uma segunda opinião?
- O Dr. Mário, experiente como é, deu logo o alarme na altura da mamografia e por isso fiz a biópsia. Agora, mesmo havendo poucas dúvidas, saberei na próxima consulta, marcada para a semana dada a extrema urgência, se irei ser operada ou começo por fazer quimioterapia. Ele disse-me que tal dependia da avaliação do estadio de desenvolvimento do tumor, que será feita pela equipa multidisciplinar. É ductal, perigoso e está localizado abaixo do mamilo esquerdo. Vão-me cortar toda…. – E começou num choro convulsivo.
- Então… - Júlia tentou consolar a amiga mas sabia que tal era muito difícil, sobretudo naquela situação de risco de vida e com todas as consequências derivadas.
- Está tudo contra mim… Depois do divórcio, a mudança de emprego para outro onde ganho menos, as despesas que não param de crescer… Como vai ser depois? Eu, sozinha, sem qualquer tipo de apoio familiar…
Júlia olhou-a com firmeza, segurando-a pelos ombros.
- Luísa, olha bem para mim… Eu sou tua AMIGA! Isso significa que nunca te deixaria abandonada à tua sorte. Fosse quem fosse, quanto mais tu, minha amiga de infância. Claro que te acompanharei sempre, na fase atual e depois na recuperação.
Luísa olhou-a fixamente, muito séria, tentando perceber a determinação da amiga.
- Júlia… Falas a sério?
- Alguma vez te menti? Olha, ou venho morar contigo ou vens morar comigo. Escolhe. Não tenho compromissos, por isso é-me indiferente.
A resposta demorou algum tempo, depois Luísa disse-lhe, num fio de voz:
- Anda para o pé de mim.
Júlia olhou-a, cheia de pena. Assim, encolhida no sofá, ainda parecia mais pequena, franzina, frágil como uma ave ferida. Compreendia que uma catástrofe se tinha abatido sobre Luísa. O medo do futuro dominava-a. Via-se-lhe nos olhos.
Sentou-se ao lado dela e abraçou-a carinhosamente.
- Podes contar comigo, sempre… Se não te importas, logo à noite trago umas roupas, uma mala com o indispensável e ficarei por aqui enquanto precisares do meu apoio.
- Obrigado… - Balbuciou Luísa, sumida no seu canto do sofá.
- Ânimo, amiga… Vamos almoçar? Vá, compõe-te, lava essa carinha laroca e dá uma penteadela no cabelo. Vai uma pizza?
 
 
 
JULHO DE 2015










 
Ferreira Estêvão
Enviado por Ferreira Estêvão em 16/07/2015
Reeditado em 16/07/2015
Código do texto: T5313180
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