Amiraldo
 
Nessa época em que todos estão conectados a tudo, de interligação total, em que o celular nos indica onde as pessoas se encontram, os ciumentos estão em alta. 
Conheço um caso, em que o marido comprou um telefone da mesma marca que o da mulher, para que permitisse, que em tempo real, o ciumento pudesse saber onde se encontrava a sua mulher. 
Assim como as crianças, e adultos que não conseguiram ultrapassar a fase infantil, ficam obcecados pelos joguinhos eletrônicos, Amiraldo, o ciumento, passava o dia observando os caminhos percorridos pelo carro da sua amada.
- Agora, ela está na Avenida das Américas, caramba, o trânsito está engarrafado, o carro não sai do lugar...  Em seguida, ele lhe telefona:
- Queridinha, que trânsito infernal!
- Não posso ficar pendurada ao telefone, Amiraldo, estou ao volante, vou desligar, tem um guarda na esquina!
Em seguida, ela desligou. 
O marido não gostou da sua atitude descortês, mas continuou ali, atento, verificando cada curva que o carro fazia. 
- Ué, ela saiu do percurso, retornou, será porquê? Entrou na Estrada da Joatinga, a rua dos motéis...
Amiraldo começou a ficar nervoso, sua mulher saiu do itinerário, telefonou, mas ela não atendeu. O que ela estaria fazendo nesse lugar?
Voltou novamente a monitorar, o carro estava parado em frente ao número 120. 
- Vou verificar no Google-maps. Estrada da Joatinga número 120, eis lá, estampado, está o Motel Carinhoso...  Ela deve estar lá dentro, com outro...  Que puta!
Uma onda de calor se apossou de Amiraldo, ele não poderia permanecer passivo, Carminha tinha ido para o motel, a dois quilômetros de distância da sua casa. O Google indicava, o carro estava estacionado lá. 
O aplicativo era poderoso, dava a indicação de onde o telefone estava, e logicamente, também a sua mulher, a piranha da Carminha! 
Sua localização, Estrada da Joatinga, número 120, não havia dúvida, ela estaria dentro do Motel Carinhoso...
Era lá que Carminha se encontrava com seu amante. 
Pelo Google-maps, ele divisou a frente do prédio, no qual a placa indicava: Promoção, duas horas, R$90,00
Amiraldo vestiu o casaco, onde permitia se notar o volume da arma na cintura, desceu do seu prédio e pegou um táxi. 
O trânsito, engarrafado, o deixava cada vez mais nervoso, mas mesmo assim continuava monitorando o telefone de Carminha, que chamava, chamava, e ninguém atendia. Lá estava o telefone. Onde? No mesmo número 120, no motel. 
Ao chegar em certo ponto, o engarrafamento era total, ele pagou ao motorista, atravessou a avenida, e foi correndo, esbaforido para o local. Só faltavam trezentos metros para chegar ao motel. 
Amiraldo, suado, sob o calor de trinta e oito graus, foi ficando vermelho, mas continuou em sua marcha acelerada.
Quando ele conseguiu chegar, e viu o carro da mulher, em cima de um caminhão – reboque, desmaiou. 
O carro foi para a oficina, e ele para o hospital. Enfartado...