FILA DO BANCO

Ele estava ali na minha frente. Nas mãos, levava uma carteira marrom, velha e enrugada, tanto quanto ele mesmo.

O atendimento prosseguia lento e o calor estava insuportável do lado de fora, expulso pelo ar condicionado da agência.

Outro funcionário, que se misturava ao mar de correspondências bancárias, tinha uma cara de cansaço eterno, apesar de os envelopes corriam céleres em suas mãos ágeis.

Como não me restava nada a fazer, a não ser esperar minha vez, divertia-me assistindo ao pacientemente impaciente velhinho, cujas mãos brincavam de tremer, farfalhando uma folha de cheque que iria descontar.

De repente, um sonoro biiiip chamou a atenção daquele senhor para um monitor no alto esquerdo da sala: Senha 48. O velho dirige-se ao guichê e, no meio do caminho, brinca de cair, depois de levar a mão ao peito, soltando um gemido fundo. Ali, no chão, brinca de adoecer e brinca de morrer.

Suas mãos flácidas abrem mão do cheque, da carteira e da vida. Finalmente se aquieta aquele tremor exasperante e a ordem de pagamento repousa sob o corpo sem vida.

O que veio a seguir, não sei. A senha 49 apitou no monitor e eu fui para outro caixa distante da movimentação que se precipitara sobre aquele corpo estirado no meio da agência bancária.

Paulo Pazz
Enviado por Paulo Pazz em 23/07/2015
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