Casa da vó
Minha rede ficava na última alcova da casa, justo aquela que tinha uma janela fechada com madeiras que permitia a entrada do vento frio, resmungando, cochichando. Pelas frestas da janela entravam o claro da lua e a sombra das árvores, sugerindo a presença de almas. Enrolada com um lençol fino, eu ficava imóvel esperando ansiosa minha vó ligar o rádio. Isto acontecia todos os dias às quatro horas da manhã. O escuro apertava o meu peito e tirava o meu ar. O medo era maior do que a vontade de levantar e sair correndo para dentro da rede mais próxima. Todo meu medo cessava quando ouvia a música suave que vinha do rádio.
Finalmente adormecia como anjo.
Nena Barros.