Cotidianos

Eram duas da manhã de um domingo de agosto, daqueles que faz muito calor mesmo o céu desabando lá fora. Ele, com a toalha enrolada na cintura, olhava-se no espelho enquanto escovava os dentes, fazendo caras e bocas e sorrindo para si mesmo.

_ Então é isso que os meninos fazem quando estão com as portas fechadas.

Rapidamente ele se recompôs e corou de vergonha. Ela nada usava, apenas um belo sorriso totalmente despido qualquer pudor. Na verdade, a única diferença que ele conseguira perceber nela, que a cinco minutos sussurrava em seu ouvido que ia gozar, era um coque prendendo seus cabelos pretos e cacheados. Sem nenhuma cerimônia ela adentrou o banheiro e ligou o chuveiro.

_ Nossa, que quentinha.

_ Uhum. Agogo tomgar ganho quenpe. – falou, ainda com a boca cheia de creme dental.

_ Oi?

Ele sorriu sem graça, e se existia alguma coisa dentro da sua boca, havia escorrido naquele momento. Após cuspiu na pia, completou.

_ Desculpe. Eu falei que também adorava banho quente.

_ Eu entendi, só queria que você repetisse com a boca cheia, foi fofo.

Aquela situação era completamente nova para Paulo, que não costumava levar mulheres em sua casa, principalmente no primeiro encontro. Se é que podemos chamar aquilo de encontro. Se conheceram por acaso, horas atrás no Whiskritorio, um pub bastante agradável que fica na zona sul de Natal. Uma das bandas locais tocava um roquezinho divertido quando ele, após paquerar por um longo tempo, a convidou para dançar. Em pouco mais de cinco minutos já estava se pegando como se conhecessem a boca um do outro há mais tempo. Dava pra sentir o clima dos dois de longe, e sem contar conversa, por volta da meia noite e vinte, perceberam que não dava mais para ficar ali.

_ Engraçado – falava ele, agora parado à porta, apenas observando-a se banhar – parece que a gente se conhece faz tanto tempo.

_ Tempo é relativo, meu bem. Três horas podem significar muito para uma pessoa em estado terminal.

_ Eu sei, mas é como se – exitou.

_ Entendo, senti a mesma coisa. Se não fosse isso, não estaríamos aqui agora.

_ Você é linda, sabia?

_ Sou mesmo.

_ E modesta também.

_ Ora, bolas, sou a rainha da humildade.

Nesse momento ela, já com o chuveiro desligado e estava coberta com a tolha de super herói que o Paulo lhe entregara, passou por ele e, chegando no quarto, começou a se vestir.

_ Achei que você fosse ficar.

_ Eu adoraria, mas preciso ir para casa.

_ Deixa eu colocar uma roupa que vou te deix--

_ Não precisa, já chamei um taxi.

Ele parecia decepcionado e não conseguiu esconder isso. Já com a porta aberta, se encaminhavam para a saída.

_ Ei, relaxa. Não é nada com você, eu apenas não gosto de dormir longe da minha cama.

_ Tudo bem, entendo.

_ Pega teu celular e anota meu número. Qualquer dia desses me liga pra gente sair, adoraria te conhecer melhor.

_ Ligo sim. Eu também adoraria – Ela interrompeu novamente e o beijou.

_ As vezes você pensa demais e fala demais, acho que por isso me chamou atenção.

Essas foram as últimas palavras antes de entrar no taxi. Paulo ainda não estava acostumado com essas atitudes simples de gente grande, namorara muito tempo e ainda estava desprevenido quanto as relação adultas. Mas ele adorou aquela experiência. Venessa era uma mulher fantástica.

Ele ligou para ela dois dias depois e convidou-a para ir numa peça na Casa da Ribeira. Nas semanas seguintes as saídas tornaram-se mais e mais frequentes, até que perceberam que iria rolar algo mais. Até hoje, dois anos após o primeiro encontro e a primeira transa, ambos estão por ai, curtindo um lindo relacionamento pelos bares de capital Potiguar, mostrando pro mundo que na vida real o amor acontece e pronto, sem tempo para qualquer tipo de rótulo ou pré-julgamento.

Gonzaga Neto
Enviado por Gonzaga Neto em 16/08/2015
Reeditado em 16/08/2015
Código do texto: T5347888
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