Como um botão de rosas
Vera Lucia sentia-se uma mulher feliz: tinha marido, filhos e empregados. Havia magia de amor entre eles. Era criativa, pintava quadros e cozinhava maravilhosamente.
Depois de alguns anos as coisas não mais corriam bem para seu José, marido de D. Vera. As vendas na loja que trabalhavam caíram e ele perdeu muito dinheiro. Ficou melancólico e depressivo. Até que, um dia, teve um enfarte fulminante.
Com o tempo, Vera começou a sentir-se muito solitária. Nem os filhos a animavam. Resolveu vender o lindo imóvel onde morava e se mudou para um apartamento pequeno na Gávea.
Do seu quarto contemplava um bosque com árvores frondosas e ouvia o canto dos passarinhos. Mal acordava, abria a janela para ouvi-los.
Uma noite, esqueceu de fechá-las e subitamente um pássaro voou para dentro do aposento. Bateu na parede e caiu no chão. Estava tonto e ali ficou. Ela o olhava tão assustada quanto ele. Era um lindo beija-flor! Dourado e turquesa. Ela o pegou com cuidado. Ele nem se mexeu,
mas seu coraçãozinho disparava. Ela então tentou dar-lhe água e depois deitou em sua cama e colocou-o em cima do seu peito. Ficou ali pensando...
Olhou para a avezinha e sorriu depois de tanto tempo, perguntando a si mesma se o beija-flor estaria aprendendo a bater suas asas. E ela o admirou pela sua coragem de enfrentar a escuridão da noite.
Vera pensou em si mesma, no que havia conquistado e deixado pra trás, o trabalho, os amigos, a disponibilidade de ajudar ao próximo. E se sentiu pequena vivendo apenas de silêncios e lembranças. Olhou para o pássaro e o chamou de " Precioso", por ter sido ele o responsável por ela se sentir mais plena de si mesma! Os dois adormeceram.
Quando o dia clareou, Vera levou o pássaro até a janela. Olhou-o ternamente e estendeu as mãos para que ele voasse. O beija-flor entendeu e voou para a liberdade do bosque.
Vera se olhou no espelho cheia de vida, mudou de roupa e decidiu sair para vivenciar a mesma experiência que tivera com o beija-flor.
Finalmente, estava se abrindo como um botão de rosas.