UM POUCO ANTES DO FIM

Acordo pela manhã com uma suave melodia entrando pela janela. No começo penso tratar-se de algum músico bondoso que resolveu tocar seu próximo a minha janela, e assim me deliciar com o maravilhoso som que sai do seu afinado instrumento.

Sonolento, ainda com os olhos quase fechados, ando até a janela para contemplar o músico que eu imaginava estar tocando tão deliciosas notas. Chego à janela, olho em volta a procura do tocador, mas não o vejo. Estranho, penso eu, não vejo músico algum mais ainda continuo a escutar a suave música que me fez sair da cama tão cedo. Será que eu ainda estou sonhando? Será que não existe músico algum e eu ainda estou dormindo junto à janela do meu quarto?

Quando ainda estava absorto em meus pensamentos, estranhos pensamentos esses, vejo, para minha surpresa, o músico que me fez levantar da cama com a sua doce canção. Ele estava sentado no galho de uma árvore que fica diretamente em frente a minha janela. Tocava ele alegremente com sua plumagem amarela brilhando no cálido sol da manhã. Tocava como se para ele, a vida se resumisse a apenas isso: tocar, tocar, tocar...

Eu, da minha janela, fiquei escutando embevecido, imaginando que ele tocava só para mim, e que ninguém mais poderia escutá-lo. Confesso que cheguei a sentir inveja de tão afinado músico.

Mais eis que vindo não sei de onde, aparece um moleque armado com a sua atiradeira, e com um tiro simples e certeiro, pois fim a suave melodia que o músico de plumagem amarela tão bem executava, um pouco antes do seu fim.

Triste fim.

João Pessoa, 24.06.2007