Medo do escuro

Um dia eu estava andando na rua e vi um homem num complexo autoflagelo. Ele agia como se quisesse purgar seus pecados, acreditando ser merecedor daquele sofrimento. Eu comecei a conversar com ele. Perguntei o motivo de tudo aquilo. Ele, já todo machucado, olhou para mim e, em seus olhos, eu vi desespero e culpa. Aquilo me deu uma sensação ruim, então eu propus a ele que ouvisse um texto que eu mesmo escrevera. Ele aceitou, com certa apatia. Então eu comecei:

“É você quem cria seu céu; é você quem cria seu inferno. (Osho)”

“Diego estava se divertindo com tudo aquilo. Em compensação, Alcides estava desesperado. Tanto que, de sua sela, podiam-se ouvir gritos de pavor. Diego acreditava que seu irmão caçula deveria ser punido com rigor. Durante muito tempo, ele tentou impedir que o irmão agisse daquela forma. Entretanto, Alcides era como um cavalo selvagem e Diego não teve muito sucesso ao tentar domá-lo. E logo o fatídico dia chegou e tudo parecia colaborar para o fim de Alcides, que, se ao menos tivesse confessado seu erro antes, não estaria naquela situação. E mais do que verbais, Alcides sofria agressões físicas dentro do cárcere. Diego, sentindo-se lesado, agia com rigidez para punir o irmão, que, àquela altura do campeonato, estava magro e abatido. Suas pernas tremiam e o enjôo aumentava a cada acusação sofrida. Sabia que, dali a 3 horas, seu destino estaria selado. E aquelas seriam as horas mais difíceis de sua vida. Então um filme veio à sua mente; vieram lembranças desde seus primeiros passos até o momento em questão. Lá estavam desejos reprimidos e pecados inconfessáveis, entre outras coisas que preencheram aqueles 150.000 dias. Ele já abraçara o arrependimento, mas mesmo assim acreditava que seria punido. E isso se reforçava pelos impropérios que vinham da boca seca de Diego. E o momento chegou. Lá fora havia uma multidão. Todos veriam aquele enforcamento e todos tinham olhos de julgamento. Alguns tinham raiva, pois pensavam que aquele homem de 40 anos deveria morrer por ter cometido tais atos. Outros sentiam dó por verem um ser humano descer tanto na vida e passar por tal situação como conseqüência. De um lado da forca estava Diego e do outro, o carrasco. Assim que sentiu a corda em seu pescoço, seu enjôo aumentou e tudo parecia perdido, mas no peito de Alcides, uma luz se mantinha acesa como uma vela ao vento. E de repente, surge uma carruagem. Todos ficaram surpresos e ninguém poderia imaginar de quem se tratava. Entre muitas especulações, um homem com sorriso angelical se apresentou como enviado do rei. Tinha um documento em mãos e, aproximando-se rapidamente do local, disse: ‘_Parem! Ouçam o que tenho a dizer! Sua majestade, o rei, resolveu perdoar o Sr. Alcides Psique. Aqui está o documento que o liberta da morte pela forca. ’ Ao ouvir aquilo, Alcides sorriu e desmaiou. Logo que voltou a si, lembrou-se da carta com pedido de clemência que enviara ao rei, escrita com ‘tinta de limão’ a qual apenas algumas pessoas poderiam ler. Contudo, Alcides percebeu que aquilo não o livraria totalmente de Diego, mas, dali em diante, teria que andar na linha.”

Ao terminar o texto, vi que os olhos do sujeito estavam mareados. Neles havia uma mistura de surpresa e agradecimento. Então ele percebeu que Diego e Alcides moravam dentro dele e parou de se açoitar.

Tom Cafeh
Enviado por Tom Cafeh em 25/09/2015
Reeditado em 30/09/2015
Código do texto: T5394367
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