A DAMA DA CAPA

O colunista Gustavo Sirtol acompanhava a vida privada de algumas personalidades do municipio de Castro do Sul diariamente. O seu dia de trabalho começava pelas consultas aos sites especializados em fofocas de famosos. Ele colhia as últimas novidades do momento, e as novas celebridades de um reality show sobre gastronomia. A sua equipe de trabalho saia ás ruas em busca de pautas para a revista O Sucesso. O conteúdo desta revista abrigava fotos e entrevistas das damas da sociedade Castrence. Nestas entrevistas as perguntas mais recorrentes eram "quem você deixaria em uma ilha deserta, e qual é o seu perfume favorito?". As damas seguiam uma espécie de script programado pela produção da revista. As novidades eram apenas a alteração de um verbo aqui, um pronome ali. As demais frases tinham uma verossimilhaça muito grande. Os modelitos usados pelas damas não podiam ser repetidos. Quanto mais novas fossem as roupas, mais poder, riqueza e status elas demonstrariam para as leitoras mais exigentes. O público que consumia aquela publicação mensal não admitia fotos de pessoas tristes, feias, gordas, deficientes ou com roupas modestas. O ambiente das reportagens deveria ser o mais luxuoso possível. O passado sombrio, as separações polêmicas, e os escândalos não eram citados naquelas reportagens. Na revista também não havia espaço para notícias ruins, mas sim as viagens, e as compras no exterior que as damas faziam em suas férias. Certo dia, o colunista entrevistou uma das "modelos" que sairia na capa da revista. A dama da capa exibia vários modelos de vestidos de marcas famosas, jóias e sapatos caros. A maquiagem da nobre senhora foi feita por um maquiador internacional. Tudo foi perfeito. As fotos, e as matérias foram um sucesso. Os exemplares da revista foram esgotados em pouco tempo. Mas um detalhe chamou a atenção das ilustres leitoras daquela revista. A foto da "modelo" revelava um algo curioso. Este detalhe não condizia com a fortuna daquela dama. A etiqueta do vestido denunciava a origem daquela grife. A etiqueta tinha letras garrafais com os dizeres "MADE IN CHINA". As leitoras também descobriram outras particularidades da nobre "modelo". A dama da capa usava roupas, jóias, e calçados falsificados. A mansão usada pela ilustre senhora pertencia a uma imobiliária que fizera uma permuta com a nobre senhora. O carro luxuoso que ela usava pertencia a uma locadora de veículos na qual a dama da capa era garota propaganda. Outras revelações foram feitas para o espanto das exigentes senhoras da alta sociedade. As roupas da senhora rica foram compradas a uma sacoleira que viajava todo mês para o Paraguai. A sacoleira revendia estas roupas falsificadas as senhoras consideradas falidas ou endividadas. Tudo era fachada, menos a pose da ilustríssima senhora da alta sociedade.

Levi Oliveira
Enviado por Levi Oliveira em 13/10/2015
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