MEMÓRIAS... A CASA, SUAS LEMBRANÇAS
 
    Hoje passei defronte à casa.   Quantos anos!
    Difícil passar por ali. Mas pouco se vê do lado de fora, pois um muro alto a separa da rua.  E lá vivi tantos anos... 22, para ser exata!
     O quintal dividia-se em garagem, pomar, jardim, a casa, e uma bela área nos fundos, onde fizemos tantas festas, entre amigos e familiares.

     No pomar, uma frondosa amoreira, um pé de figos, uma goiabeira, um pé de romãs e, uma belíssima mangueira que vimos crescer colhendo os frutos na mão, pois nós a plantamos. As outras árvores já lá estavam antes de nós.
     Naquela casa tudo parecia diferente. As amoras eram doces e de tamanho fora do normal. As goiabas (brancas) mais pareciam chuchus pelo tamanho e, sem nenhum bicho (um engenheiro amigo me ensinou colocar limália de ferro no entorno do tronco).  Os romãs, abriam-se e deixavam à mostra suculentos caroços rosa...quantas pessoas os pediam, para fazer remédios pra garganta!  As mangas, haden, lindas, vermelhas, deliciosas, que saudade!
     No jardim, roseiras, margaridas, manacá, hibiscos, lirios, anturius, costela de adão, folhagens diversas (umas vindas do Amazonas com cachos cor maravilha que não sei o nome), Brincos de princesa, Dama da noite, essa, fantasmagórica à luz da lua, deixava nossa casa perfumada à noite, com suas grandes flores brancas. E até um sabugueiro, grama verdinha, beldroegas, e a minha azaleia querida que quando mudei, transplantei para a nova casa, mas em janeiro infelizmente morreu...
     Lá fomos morar recém casados. Depois vieram os filhos, um menino e uma menina, diferença de apenas um ano e meio entre eles... quando ela veio, num 27 de maio, trazendo a alegria do nascimento, trouxe também uma nuvem de incertezas, porque jamais pensei lidar com Sindrome de Down. Mas hoje digo: tirei de letra!
  Tivemos tantos momentos felizes naquela casa... os aniversários, os Natais com a vinda de um Papai Noel trazendo os presentes deles, memorável constatar a alegria nos olhinhos de cada um, ao receber o presente pedido!

  E as festas, como éramos festeiros! Todos gostavam. Éramos uns 20 casais amigos, mais nossos familiares. Tudo era motivo de se comemorar. Até jogos de Copa do Mundo, em torno de uma churrasqueira com muito papo agradável!
     Aí, já éramos (como no Romance) seis. O casal, os dois filhos, 1 pincher (Pingo) e 1 gata angorá (Nina). Tempos felizes!

...... - Queria entrar na casa, mas hoje estranhos moram ali. Por isso fiquei apenas em frente, a olhar - ..... Fechei os olhos por instantes e me vi dentro dela... as três grandes salas, os quartos, a cozinha, o largo corredor (onde eu me sentava para contar histórias aos dois, a maioria inventadas...) e, o banheiro em mármore cor-de-rosa, tão lindo, inesquecível.
A varanda da frente, com meus anturius, samambaias, avencas... As paredes da casa, repletas de quadros, paineis e pratos de porcelana. Tudo acabou.
     Bem que eu quis adquirir a casa, lutei, mas o dono nunca quis me vender. Hoje ele já a perdeu, para agiotas!
    Nem sei porque estou aqui a falar sobre ela. Minha vida mudou muito. O casal já não existe, ele se foi e só me restou acender-lhe velas... o filho se formou e foi construir seu próprio ninho. Eu e minha filha moramos num apartamento bem menor (mas que também tem pomar e jardim!) e vivemos uma para a outra.
     Tenho certeza, jamais esquecerei da casa e a história que ali edifiquei e vivi.  Algumas tristezas houve, como todos, mas é com saudade que me lembro daquele tempo.  Um passado que não se apagará jamais, pois lá deixei um pouco de mim, no eco das risadas das crianças, nos choros, nos sonhos não realizados, nas lembranças que ficaram junto com a casa, deixando marcas indeléveis na alma.
     A vida seguiu, mas a casa, essa guardará eternamente nossos segredos em suas paredes, salas, quartos, frestas de janelas, pisadas no jardim e todos os outros cantos por onde passamos e deixamos um pouco do nosso existir. Isso ninguém poderá apagar... jamais!
     

        
Simplesmente Romântica
Enviado por Simplesmente Romântica em 19/11/2015
Reeditado em 29/11/2015
Código do texto: T5454277
Classificação de conteúdo: seguro