A CASA BRANCA

A casa vivia cheia de gente chique. Todos os anos comemorava-se o aniversário de todos em um só período. A vizinhança sabia qual era o período daquelas festas anuais: o mês de dezembro. A casa era a imagem perfeita de organização. A entrada principal apresentava uma estátua de um anjo com a flecha apontada para o jardim florido. Naquele recinto imperava uma bruma de romantismo. Ali tinha flamboyants, jambo, rosas e jasmins. Um lugar agradável para passear e respirar um ar puro e saudável. A casa tinha janelões que acusavam a identificação dos visitantes. Os amigos daquela família chamavam a tal residência de Casa Branca. Mas sem fazer referência a residência do presidente estadunidense. A cor desta casa era branca mesmo, tal qual o vinho servido no recinto. A dona Tarcísia, a proprietária da Casa Branca, tinha duas filhas que contribuiam com a organização das festas anuais. Os mais bonitos rapazes da cidade visitavam aquela residência. Eles desfilavam os seus smokings elegantes e davam um brilho a mais as festas. As moças trajavam vestidos que custavam o mesmo valor de carros populares. A festa anual fazia parte do "calendário" dos convidados. Eles não passavam o Natal com seus familiares e sim na Casa Branca. As festas resistiram a muitas crises econômicas. Mas no ano de 2003 sucumbiram com a morte do Dr João. O marido de Dona Tarcísia sofreu um infarte fulminante. A notícia foi impactante para os visitantes daquela casa em pleno mês de dezembro. A aura de glamour e felicidade ficou para trás. A viúva sentiu muito a morte do companheiro que era o maior incetivador daquela festa anual. A partir daquele ano não houve disposição para qualquer comemoração. Pouco tempo depois as filhas da viúva casaram-se com os melhores partidos da região. Elas foram embora para o exterior. Mas temível crise econômica atingiu as finanças daquela residência. A pensão deixada pelo marido fora reduzida a 40% de sua renda de Desembargador de Justiça. A consequência disto foi a dispensa dos 10 empregados. A dona Tarcísia passou a viver apenas com a sua indesejável solidão. Os visitantes da festa anual se afastaram daquela casa. A decadência da Casa Branca era visível. A cor agora tinha um tom desbotado. A decadência batia as portas da outrora casa iluminada e muito chique. O jardim possuia agora um tapete macio, todavia marcado por um lodo resistente. As flores não resistiam à falta de cuidados e murchavam a cada dia. O mato cobriu por completo uma parte do telhado e as aranhas contribuiram para a decadência completa da Casa Branca. Dona Tarcísia adoeceu e reside agora em um abrigo para idosos. Ela não recebe visitas dos outrora amigos "fiéis" e até das suas filhas . Todavia não se cansa de repetir as estórias de uma casa de um passado glorioso. Os relatos de glamour, felicidade e ostentação divertem agora os fiéis ouvintes e companheiros da viúva residente do asilo São José.

Levi Oliveira
Enviado por Levi Oliveira em 16/01/2016
Reeditado em 17/01/2016
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