ponta negra. vinte duas e trinta.

1.

ponta negra. vinte duas e trinta.

_ acho melhor eu ir nesse ônibus. provavelmente é o último pra zona norte.

ela me abraçou com delicadeza, eu podia sentir o seu corpo acoplar-se ao meu. no ouvido, sussurrou aquilo que - futuramente - iria para algum novo single da minha banda.

_ dorme comigo hoje.

2.

não lembro ao certo que tipo de festival era aquele. provavelmente alguma virada cultural ou coisa do tipo. também não recordo se o show rolou no armazém ou no buraco da catita. talvez tenha sido mesmo é no ateliê, na época que ainda nem era na rua chile. tanto faz. o que importa entender é que foi no meio de tanta gente semiconhecida que àquelas duas retinas me destruíram. me deixaram completamente nu. cantei a noite inteira praquela menina. Era como se ninguém mais existisse e fodêssemos apenas na troca de olhares, em cima do palco. gemíamos notas que saiam pelas caixas de som e ecoavam por toda ribeira. a cada novo acorde, a cada novo sorriso, eu fantasiava o que aconteceria depois. porém, ao fim do show, quando voltei pro salão para procurá-la, os olhos mais bonitos que já vi na vida haviam sumido.

3.

_ você só tem vinte anos? – me disse, passeando as unhas pelas minhas costas.

_ minha idade importa?

_ ora,claro que não. é que geralmente não saio com caras beeeeem mais novos que eu.

_ então façamos o seguinte: terei a idade que suas curvas quiserem que eu tenha.

ela sorriu. eu completei.

_ que tal...vinte quatro? é uma boa idade. geralmente os caras quando chegam nessa fase já terminaram a faculdade e, no mínimo, possuem uns oito-nove anos de experiência sexual.

_ não me importa sua idade, foi só curiosidade.

_ okay! fechamos em vinte e quatro.

4-

“olá! :D ”

“oi”

“tá lembrado de mim?”

“claro, você é a moça de ontem a noite”

“isso, gabriela. 󾆞 ”

“leo 󾆛”

“desculpa ter ido embora, é que uma amiga passou mal e não pude esperar”

“não se preocupa”

“algum problema d’eu ter conseguido o número do teu whatsapp? 󾆐”

“claro que não, eu teria te dado se tivesse te encontrado”

“adorei suas músicas, não conhecia sua banda”

“ah, massa! a gente começou faz pouco tempo, na verdade”

“e o que você vai fazer hoje a noite?”

“provavelmente vou para aula”

“ah! :/ ”

“quer dizer, se não tiver coisa melhor para fazer :3 ”

digitando...

“tava pensando em dar uma volta em ponta, hoje a noite. quer ir comigo?”

“as vinte tá bom pra você?”

“ótimo”

“fechado”

“te vejo mais tarde”

“até”

"󾠣"

" :* "

5-

_ só temos um quarto que está sendo limpado no momento. vão aguardar?

_ quanto tempo?

_ dez minutos.

tempo suficiente para começar ali mesmo na garagem.

_ mete esse caralho em mim, mete.

ela gritava. me xingava de todos os palavrões possíveis. logo estávamos molhados de suor. o cheiro que subia no local era forte. cheiro de sexo. escatologia pura. seu rosto contra parede. pernas semiflexionadas. respiração ofegante. não consegui me segurar por muito tempo, tirei meu pau e gozei. maldito coito interrompido.

6-

_ até que tá iluminado isso daqui.

_ pois é, faz um tempo já.

_ acho que não venho por essas bandas a noite desde o ano retrasado. fui assaltado lá no paraíso, na época que eu era um boe-do-cefet e fumava um só pra me passar de descolado.

_ aqui tá bem melhor, garanto. e ainda bem que você saiu dessa fase boe-do-cefet.

seu sorriso era maravilhoso.

_ você quer beber alguma coisa?

_ eu tô com uma puta fome, que tal um sanduíche?

_ não podia ser melhor.

comemos numa lanchonete que tinha lá na orla mesmo. o papo fluiu como nunca. ela adorava arte, mas nunca tinha se metido com esse tipo de coisa. gostava de poesia e conhecia meia dúzia dos escritores daqui.

_ já ouviu falar do gonzaga neto?

_ já sim, amigo teu?

_ não, só conheço de vista mesmo.

_ ah! ainda bem, então posso falar mal.

_ mentira que você também não gosta do que ele escreve?

_ pois é, essa vibe de internet não é minha praia não.

_ ponto para você.

_ sem falar que ele me parece meio marrento.

_ meio?

7-

depois do banho levei alguns minutos para me recuperar. aquela menina tinha um pique qu'eu não tava acostumado. enquanto cavalgava em cima de mim, observava os espelhos. depois me contou que adorava ver seu desempenho durante o sexo.

_ acho meu corpo lindo. e o que é lindo precisa ser apreciado.

_ concordo plenamente.

eram seis tatuagens. uma no ombro esquerdo. outra abaixo do seio. costas. coxa. pulso. braço. pareciam criar vida quando ela se levantava nua para ir ao banheiro. da cama, eu apenas a observava.

8-

cheiro de maresia. noite sem lua. duas bocas. um choque.

tesão.

9-

_ e se eu não tivesse te procurado, você teria vindo atrás?

_ não sei. não fazia a mínima ideia de quem era você ou de como te achar.

_ ainda bem que não costumo esperar por vocês homens.

_ ainda bem.

_ você tem uma bela bunda, sabia?

_ hm, obrigado.

_ você não é bom de receber elogios, não é mesmo?

_ é que nunca elogiaram minha bunda. sei lá, não sei como reagir nessas horas. acho que homens geralmente não ligam pra esse lance de elogiar bunda. digo, as nossa, é claro.

eu já disse que o sorriso dela era fascinante? meio sacana. que me desconcertava toda vez.

_ você são muito é bestas. mas não se preocupe, seu pau não sai por baixo. é bonito também. olha que eu já vi muita rola na vida.

_ se a senhora diz, quem sou eu para duvidar?

acordamos as seis e transamos mais uma vez no chuveiro. dividimos a conta do motel e cada um foi para seu lado. voltando pra casa, no cinquenta, percebi que a amava. estranho, né? mesmo estando com ela há pouco mais de doze horas, eu sabia que aquilo – definitivamente – era amor.

10-

não durou mais que seis meses.

Gonzaga Neto
Enviado por Gonzaga Neto em 03/03/2016
Código do texto: T5562119
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