A FORÇA DA VERDADE

A FORÇA DA VERDADE

É apenas uma pequena história para confirmar o título desde episódio.

1974 estudado em Salvador, curso universitário de curta duração Letras – Português-Inglês, vontade de comprar um rádio-gravador-tocafitas, o rapaz dirige-se para aquela lojinha localizada na Ladeira da Praça. Se fosse nos dias atuais o proprietário já teria chamado a polícia para retirar o possível ladrão que já rodiava aquela loja, tantas vezes, que já dava pra desconfiar.

Contas feitas diversas vezes. CR$500,00(quinhentos cruzeiros) era o valor da sua bolsa de estudo do governo estadual. Em pouco tempo seria professor do Colégio Polivalente. Adorava músicas cantadas em Inglês. Tentava traduzi-las. Fruto do momento. Estavaa estudado Inglês. Nos fins de semana saía com os colegas para ir ao Pelourinho. Eles mais afoitos já tentavam conversar com os turistas. Ele só observando. Já entendia e falava alguma coisa do idioma. Mas o seu interesse maior era a música. Que só ouvia no rádio dos colegas de pensão. Mas agora chegou a hora de comprar o sonhado eletrodoméstico.

Dirigiu-se mais uma vez à loja. Desta vez era diferente. Tinha certeza que a prestação cabia no seu orçamento. Santa ingenuidade. Já com 23 anos, mas sem experiência no ramo do fiado.

Ia saindo, descabriado com o não do vendedor. Motivo: seu salário não era suficiente para pagar a prestação. Voltou mais uma vez para ver se convencia o vendedor.

Esta negociação estava fora do seu limite. Chamou o patrão e falou baixinho o seu ouvido. O chefe deu uma olhada pro cima das lentes do óculos para o rapazinho tímido à sua frete e falou:

--Venha cá meu rapaz e me dê algumas informações: pelo que o vendedor me informou você ganha muito pouco e ainda paga 300 cruzeiros de pensão. Fica só 200 prá você pagar 70 de prestação e outras despesas. Infelizmente não posso fazer nada.

---Mas, seu homem esse dinheiro dá com toda certeza pra pagar a prestação...eu já fiz as contas. Eu não fumo, não bebo. Só gasto com cinema, transporte e picolé quando vou à praia. Eu moro perto da faculdade. Roupa eu quase não compro. Quando preciso eu deixo de ir ao cinema e à praia pra comprar.

---Apenas uma pergunta meu filho pra completar: Você tem pai e ele lhe ajuda com algum dinheiro!

---Pai eu tenho. Mas ele não pode me ajudar. Eu tenho mais 7 irmãos...

---Se ele não lhe dá algum dinheiro eu não posso vender fiado...Volte depois quando puder que eu terei imenso prazer em lhe vender o objeto.

---Só mais uma pergunta seu moço: E se eu tivesse dito ao senhor que o meu pai me ajudava nas despesas, o senhor me vendia!

---Claro que vendia!

---Quer dizer que se eu tivesse mentido o senhor me vendia! Mas como eu falei a verdade não confia em mim...e não posso comprar...

O dono da loja, parou de repente. Colocou a mão na testa, refletiu por um momento, decidiu e falou para o vendedor:

---Õ José, preenche a ficha dele, vê quanto tem para dar de entrada e deixe o rapaz levar o que ele quiser...

Obs: Além de andar com verdade a gente deve saber como demonstrá-la.

reinaldo.s.barreto@hotmail.com.