PECADO MORTAL - EC

Quando Gabi recebeu o convite de suas antigas colegas de colégio interno para comemorarem juntas os cinquenta anos de formatura ficou muito entusiasmada.

Lembranças alegres daquela fase tão especial de sua vida vieram-lhe a memória e foi com um sorriso que se lembrou de Daniel, seu primeiro amor.

No colégio de freiras só estudavam meninas, o único rapaz que elas viam era o Daniel, seminarista, que vinha com o padre para ajudar a celebração da Santa Missa aos domingos.

Daniel era lindo, mas muito sério, ciente de sua vocação para ao sacerdócio não retribuía o olhar das garotas que estavam sempre acesas para uma paquera.

Gabi apaixonou-se por ele. Não o tirava do pensamento, sonhava com ele e tudo que desejava era que ele abandonasse o Seminário para namorá-la, casar-se com ela, terem muitos filhos...

Entretanto, achava que estava cometendo um pecado mortal por imaginar uma cena de amor com um quase padre e isso se tornou uma tortura para ela. Achava que devia acusar-se quando se confessasse, mas não tinha coragem. O padre ficaria escandalizado, era capaz de contar para as madres e estas contarem para seus pais. Sabia que os padres não podiam revelar nada do que lhe fosse contado em confissão, mas, tratando-se de uma falta tão grave podia ser que ele achasse que podia abrir uma exceção.

Resolveu não contar nada e a consciência pesada a torturava, mas não fugia ao fascínio que o Daniel lhe provocava.

Quando, findo seu curso, deixaria o colégio resolveu tomar uma atitude, escreveu no verso de um santinho uma declaração de amor, deu seu endereço e pediu que passasse por SUA CASA a noite que ela abria a janela para falar com ele.

Foi até ele e entregou-lhe dizendo:

-Você deixou cair de dentro de seu livro.

Ele agradeceu surpreso e ela foi embora.

Muitas noites seguidas dormiu mal, toda hora acordando e entreabrindo a janela para ver se o via, mas ele não apareceu e ela acabou esquecendo-se dele.

Há quanto tempo não se lembrava disso, mas agora recebendo o convite da antiga colega toda sua adolescência veio-lhe a memoria com um misto de alegria e de saudade.

Chegando ao local do encontro a amiga que veio recebê-la foi logo dizendo:

Sabe quem esta aqui? O Padre Daniel! Você lembra-se dele? Era seminarista quando estávamos no colégio. Ele vai fazer uma palestra para nós.

Gabi sentiu faltar-lhe o chão. O Daniel, agora um respeitável padre, ela se ofereceu para ele e ele rejeitou. Que vergonha! Será que ele se lembraria? Reconhecê-la-ia?

Teve vontade de arranjar uma desculpa e ir embora, mas as outras amigas se aproximaram e ela entrou pensando: Que bobagem1 Imagine se ele vai lembrar de mim!

E lá veio ele sorridente para cumprimenta-la.

Não era mais o lindo rapaz por quem se apaixonara, mas um homem envelhecido, barrigudo, careca, com uns óculos horríveis ocultando os maravilhosos olhos verdes.

Aproximou-se sorridente:

-- Oh Gabriela (Só no colégio é que a chamavam de Gabriela) como vai?

Lembra do recadinho que me deixou quando saiu do colégio?

Ela corou e ele deu uma gargalhada:

Sabe que eu sonhei muito com você e achava que estava cometendo um pecado mortal? Sentia-me tentado a bater a noite em sua janela e resistia porque achava que se o fizesse estaria para sempre condenado ao inferno.

Gabi acabou rindo também, mas agora já não cometeriam o “pecado’ porque o encantamento passara, afinal não tinham mais quinze anos”.

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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Pecado Mortal

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Maith
Enviado por Maith em 14/03/2016
Reeditado em 14/03/2016
Código do texto: T5573295
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