Tempestade de dentro

Nem parecia ela mesma. A vida fora dos vidros da lotação que outrora lhe traziam uma simples felicidade agora a irritava, os galhos da árvore da praça que balançavam e deixavam cair no chão folhas secas agora a perturbavam o pensamento e a fazia concluir como as folhas sujavam as ruas, em outros tempos elas lhe traziam inspiração e uma leve expressão de riso no rosto, em outros tempos o simples fato de quase perder a lotação e ter que para-la a força lhe trazia na mente uma situação cômica e merecedora de aplausos, afinal ela quase a perdeu mas enfim conseguiu alcança-la a tempo, o fone nos ouvidos a fazia viajar em uma música antiga que a acompanhava até o local de trabalho, hoje o fato de o fone estar embolado na bolsa já era situação de chateação e decisão de nem toca-lo, ontem ela havia entrado com um livro nas mãos, não porque pretendia lê-lo no intervalo ou até mesmo dentro do ônibus, mas porque havia gostado tanto do livro que queria que as pessoas a vissem com ele e vessem que ela o tinha em mãos, ela sempre fazia isso e se sentia satisfeita quando alguém a indagava sobre o enredo ou a perguntava se era bom. Nada fazia sentido naquele dia, tudo parecia irritante e perturbador para o seu estado, lembrou-se como sempre conseguia enxergar o lado bom de tudo o que ocorria, lembrou-se de como encontrava sempre um meio de ver que as coisas dariam certo no final, que seus sonhos seriam realizados, bastavam um pouco mais de esforço da sua parte, naquele dia tudo parecia destruído e sem expectativas tudo parecia ter se tornado larvas de vulcão ao seu redor, as circunstâncias pareciam surgir de todos os lados destruindo sonhos e sorrisos, havia algum tempo que não chorava mas naquele dia fez um enorme esforço para não desabar no trabalho, tempos felizes em que acabara de ter uma expectativa destruída e mesmo assim havia uma carinha feliz no seu rosto até cantarolava uma certa canção romântica para si mesma, tempos de gozo eram aqueles que uma poesia a fazia ter um certo alívio de alma e minutos depois já estava sorrindo com qualquer bobagem que aparecesse, agora não havia ânimo para terminar aquele singelo diálogo na pasta do seu computador. Pensou que nunca voltaria a ser a si mesma não sorriria mais, tampouco planejaria planos e sonhos, pensou em abandonar o serviço e ficar para sempre deitada à cama do seu quarto pensou em não lutar mais pelos estudos tampouco estudar para si própria, nunca seria ela mesma aqueles foram tempos passados, agora eram outros tempos, dormir sempre melhorava o seu estado e no outro dia parecia sempre um novo recomeço mas ela sabia que aquele não era um estado comum aquilo era diferente e tinha a certeza que nunca mais voltaria a ser quem era.

Já era 8 da manhã o sol já penetrava na cortina da janela com raios quentes e claros, levantou-se escovou os dentes e notou que ainda permanecia dentro de si uma réstia de derrota, da janela da sala observou como as flores da mãe estavam lindas, como o terreiro estava limpo e bem cuidado, como aquela música do dia retrasado ainda era melodiosa à sua mente o café estava bom naquele dia, nem muito forte tão pouco ralo demais, por fim quase sem açúcar! Sim ainda era ela, conseguia ver dentro de si que ela ainda permanecia ali, inerte parada observando coisas simples e a mostrando que ainda habitava por perto, o dia estava lindo!

Como foi tola ao pensar que poderia ficar para sempre deitada no seu quarto, nos seus pensamentos ela não trabalharia e como pagaria o aluguel da casa onde morava? Seria despejada, e sua expectativa de derrota seria destruída, dormiria na rua seria molestada! Como conseguiria sobreviver ao mundo se não se alegrasse com as arvores com as flores ou pelo simples fato de ver um casal passeando pela lagoa? De certo morreria! Ela estava errada, havia um recomeço, lutaria como sempre lutou, lutaria por tudo que queria construiria a sua história, permaneceria no emprego, estudaria letras, lutaria por ela e por fim escreveria um enredo incrível escreveria a próprio punho a sua história, e de maneira racional seria feliz de algum jeito, daria um jeito de ser feliz se já não era, faria a coisa certa, a coisa certa a se fazer, viver! Ela escolheu viver!

Andreza Gonçalves P
Enviado por Andreza Gonçalves P em 20/03/2016
Código do texto: T5579835
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.