Sobre a virilha
_ o que se passa na tua cabeça?
_ oi? como assim?
_ é! o que se passa tanto nessa mente que te leva pra longe mesmo dividindo minha cama?
_ não sei, ando meio cheio de tudo. ou, como diria o poeta: ando tão amor da pele. talvez por isso eu fique quieto. me lendo por dentro. sei lá.
_ as vezes isso me irrita.
_ eu sei, desculpe.
_ não, tu não entendeu. não tô falando do lance de viajar, mas de se ler muito mais do que qualquer pessoa que já conheci e ainda assim não se aceitar.
_ eu me aceito.
_ tem certeza?
_ [...]
_ tá vendo? mas relaxe quanto a isso, serzinho mais estranho e bipolar da face da terra. não é qualquer um que me leva do eu-te-amo ao eu-te-odeio em 0,3 segundos.
_ preferia te levar do tesão ao orgasmo nesse meio tempo.
_ e quem disse que não leva?
_ levo?
_ o que você tem de confusão, meu bem, você tem de pegada. basta dar um xero no pé do ouvido que me destrói todinha.
_ e é, é?
_ não vou repetir, sua vênus em leão tá gozando com meus elogios.
chovia fraco, fazia calor. o ventilado soprava as roupas molhadas dele na esperança de secá-las até as sete do outro dia. esparramados na cama, descansavam sob a nudez um do outro. geni passeava a mão por entre as virilhas do rapaz. lourenço, por sua vez, cansado da rotina corrida, solfejava errado as suas músicas preferidas do zeca baleiro. lá fora, o cachorro vira lata corria atrás do nada. o motorista do sete três corria só para reencontrar a esposa em casa. a noite dormia tranquilamente e as estrelas brincavam de olhar os humanos. nada parecia anormal naquele dia. apenas mais um, como qualquer outro. simples, como a vida deveria ser.