Bom dia

a vertigem matinal o espancava a cada novo bipe que o despertador do celular dava. depois de apertar a função soneca três vezes sem ao menos abrir os olhos, resolveu levantar. sentou-se na beira da cama por mais cinco minutos, ainda tentando abrir os olhos. não houve sucesso. com as frestas semicerradas e os pés que mais faziam parte do chão que do corpo, arrastou-se até o banheiro. frente ao vaso, mijou numa tentativa falha de não acertar a tampa.

“quem foi o galado que inventou essa merda? tampa só serve pra gente sujar de manhã cedo” pensou.

balançou o pau umas três vezes e guardou.

“maldito último pingo na cueca, esse cheiro forte no short do pijama é culpa dele”.

abriu a torneira e rapidamente molhou o rosto. janelas abertas: fez-se luz. a água continuava a escorrer enquanto (sem pressa) procurava escova, pasta, passava-a uma na outra, molhava, levava até os dentes, esfregava em movimentos circulares, cuspia. levava a escova novamente até os dentes, esfregava em movimentos horizontais e verticais, cuspia. lavava a boca e, finalmente, fechava a torneira. sem movimentos bruscos, andou até a cozinha. abriu a geladeira. olhou para o leite e desistiu, tava sem o mínimo saco para esquentar. margarina. mortadela. biscoito cream craker. e com dificuldade, buscou no fundo da geladeira aquele resto sem gás do indaiá cola.

“pessoas importantes costumam morrem de câncer, úlcera e overdose. comigo, a única coisa que deve acontecer é ter algum problema grave por conta duma gastrite braba e morrer com alguma das veias entupidas de margarina qualy”.

comeu mexendo no celular e quando se deu conta, já estava atrasado. se molhou rapidamente e saiu nu, molhando a casa. ele sempre esquece a toalha. vestiu a calça de ontem, uma camisa sem estampa e foi em direção a parada. antes de chegar na esquina viu seu ônibus passar. correu e conseguiu chegar a tempo de vê-lo partir. era broxante. pegou um que vinha atrás, lotado com um cobrador abusado. calor. engarrafamento. sono. cheiro de suor. saltou um ponto depois do planejado por não conseguir descer do ônibus. apressou o passo e ainda chegou quinze minutos atrasado. perdeu a porra dos trinta conto de bônus por não-atrasos. sentou-se na mesa e ao buscar o carregador na bolsa, percebera que havia esquecido. o celular não aguentaria até o meio dia.

senha do sistema. fones de ouvido. microfone. o primeiro cliente já estava aguardando do outro lado da linha.

suspiro!

"nada como um dia normal, como qualquer outro da minha vida".

_ bom dia, senhor, em que posso estar te ajudando.

Gonzaga Neto
Enviado por Gonzaga Neto em 03/05/2016
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