REFORMA=EC
 
   Quando compraram a casinha do BNH em um bairro afastado, Gil e Telma ficaram muito satisfeitos. Por fim tinham se livrado do aluguel.
    É verdade que tinham trinta anos de prestações  para pagar, mas pelo menos estavam adquirindo o que era seu.       
    Uma sala, dois quartos ligados por um corredor com acesso para um banheiro, uma cozinha e uma pequena área de serviço.

   Tudo pequeno, simples, mas era melhor do que a casa alugada onde moravam e, o principal, era deles.
   Os vizinhos eram todos do mesmo nível econômico e a amizade se formou naturalmente.
  Todos estavam contentes com a aquisição, mas logo começaram a sonhar com algo melhor, ou seja, melhorar a casa, azulejar a cozinha, aumentar a área de serviço, ajardinar a frente, etc.
   Conversando com as vizinhas que tinham fantásticas ideias de como transformar a casinha em um “palacete” foi que nasceu o sonho da reforma.
   — Mas nós não temos dinheiro. Reforma fica caro.
   — A gente pode fazer um empréstimo.
   — E ficar com mais dividas?
   — O que é que tem isso? É o que todo mundo está fazendo. Sem dividas não se faz nada.
   — Dividas têm que ser pagas com juros, sabia?
   — É claro, mas a gente dá um jeito, economiza em outras coisas...
   — Eu não acho uma boa ideia, Pra mim nossa casa está muito boa.
   — Pelo menos a fachada. Todos vizinhos estão revestindo com pedras, só a nossa que está caiada.
   — Parece-me que todas as fachadas são iguais a nossa.
   — Mas todos vão reformar, a nossa vai ficar destoando...
  — Faça o que quiser, mas depois não reclame que o dinheiro não dá para as despesas.
   E a Telma foi radiante escolher as pedras e contratar o pedreiro para colocá-las.
   Ficou surpresa com o preço, muito mais do que imaginara, mas podia parcelar dar cheques pé- datados.
   Marina, a vizinha, veio conversar, visivelmente invejosa e disposta a dobrar o marido que não queria despesas extras e fazer também uma reforma em sua casa.
  Telma ficou mais feliz ainda, sentindo-se a felizarda que conseguira convencer o marido a entrar em uma divida que ele não queria.
   Mas a casa precisava de outras reformas mais urgentes. A área de serviço era minúscula, era humanamente impossível lavar e secar toda a roupa da família.
  — Vamos fazer um puxadinho com uma cobertura para secar a roupa.
  — Mas já estamos com muita divida, não dá mais para nada extra.
  — Puxa Gil! Uma coisa simples, não vai ficar muito caro.
   E lá se foram mais cheques pré-datados.
   E o banheiro? Não tinha azulejos na parede e o Box era uma cortina de plástico.
  — A Marina reformou o banheiro! Ficou uma belezinha!      Podemos reformar o nosso também...
  — Mais despesas, Telma! Você vai acabar se enrolando em tanta dívida.
  — Todo mundo tem divida!  Sem dívidas ninguém consegue fazer nada.
  E assim as amigas – vizinhas iam trocando ideias e sonhando com a casinha reformada e bonita.
   Telma era a que mais fácil conseguia convencer o marido a fazer o que não podiam e as outras chegavam a invejá-la.
   Sem querer ela se tornou o pivô muitas brigas.
  — Marido bom é o Gil! Faz tudo que a Telma quer, não é pão duro como você.
    Mas como não podia deixar de ser, Telma e Gil acabaram não conseguindo honrar seus compromissos, perderam o crédito e a todo dia eram procurados por credores impacientes.
   Nem mesmo as prestações devidas ao Banco puderam pagar e acabaram tendo que entregar a casa.
   — E agora, Gil, onde vamos morar?
  — O proprietário da casa onde morávamos tem uma casa para alugar, pior do que a que morávamos, mas não temos escolha. Vamos para lá.
   — Fazer o quê ?

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Este texto faz parte do Exercício Criativo –
Reforma
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Maith
Enviado por Maith em 09/05/2016
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