Coisas da vida...

Veloz o tempo passou e as lembranças de Clara iam e vinham como as ondas, que antes amava olhar. Por horas a fio, ficava absorta em seus pensamentos. Quantas coisas deixou de aproveitar e hoje o que lhe restava, eram só recordações. Não refez a vida quando enviuvou. Preferiu dedicar seu tempo ao casal de netos. Cuidava deles desde o nascimento, pois filha e genro ficavam o dia todo no trabalho. Depois da morte do marido, cuidar das crianças, era a sua distração e único objetivo. Vivia em função deles. Não sentiu a vida passar. Os netos cresceram. Só lhe restou então a monotonia, trazendo com ela a solidão de dias vazios e sem perspectivas. Clara definhava. Já não sorria mais e o seu mau humor era uma constante. Passava o dia sentada numa poltrona e via a vida passar pela janela do seu quarto. Não tinha vontade de fazer nada para ocupar seu tempo. Vieram as doenças e com elas as conseqüências. Precisava de ajuda para as mínimas coisas... Não quis sair da comodidade da sua casa para ir morar com a filha. Agora uma cuidadora, era a sua companhia, mas também, não cultivava a convivência com ela. Tudo a incomodava. Reclamava das mínimas coisas. Conseguiu se tornar um alguém insuportável pela sua amargura. Perdera totalmente a vontade de viver e num domingo de sol ela se foi. Que pena terminar a vida assim desse jeito tão triste.