Hoje, completo, com o terceiro capitulo, a história de Jorge. Um homem que conheci e que me contou a sua vida anos atrás e que decidi transmitir aos leitores do Jornal Província por julgá-la ser uma historia emocionante. É uma historia real, tudo de fato aconteceu, apenas me permiti a liberdade não citar o nome correto do personagem e nem o nome de nenhum outro participante deste enredo, além de me reservar o direito de narrar com as minhas próprias palavras e com a minha forma de escrever.
Resumindo tudo o que narrei nas duas colunas anteriores em um parágrafo: Jorge nasceu em Minas Gerais, se casou com uma jovem e foi morar no Tocantins onde pôs uma fábrica de moveis em sociedade com um amigo. Foi acusado de homicídio, preso e condenado pelo crime. Quando saiu descobriu que sua mulher havia fugido com seu sócio e sua filha. Viciado em cocaína, se recuperou, as procurou e as encontrou e depois de uma recaída, numa confusão acabou matando o ex-amigo, sendo novamente preso e novamente condenado.
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No momento em que foi preso pela segunda vez, condenado por um segundo homicídio, Jorge perdeu as esperanças e junto com elas a sua força de seguir lutando pela vida. Seentregou de fato as garras do desânimo e da depressão e tentou suicídio por duas vezes. Na primeira cortou um dos pulsos, mostrou-me a cicatriz que ficou da tentativa, a segunda, tentou o enforcamentoem um lençol. Nem para morrer teve sorte. Não houve jeito.
Dentro do deficitário sistema carcerário brasileiro, teve acesso a drogas quase com mais facilidade do que tinha do lado de fora. Claro que tudo tem um preço, mas lá dentro ele aprendeu como viver e a aceitar a sua condição de bandido encarcerado.
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Ele não soube precisar quando ocorreu, mas um dia descobriu que sua mãe havia morrido. Já fazia três meses. Nunca foi próximo da família. Tinha sido criado por uma tia que morrerá quando ele tinha 16 anos, por isso, simplesmente seguiu naquela vida e pronto.
Em um domingo, alguns anos depois de estar preso, para sua surpresa, ele recebeu uma visita. Sua filha apareceu no presídio. Ela era uma mulher agora. Uma mulher linda. Segundo ele foi uma conversa meio que desconecta, não lembrava se ela tinha brigado comele ou dito que o amava, mas aquela visita foi o suficiente para ele voltar a tentar se reencontrar.
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Dentro do presídio reencontrou a igreja. Aos poucosvoltou a ficar limpo. Buscava ocupação sempre para não pensar nas misérias da vida. Encontrou trabalho na cozinha.  A filha voltou uma vez e desta conversa ele lembrava. Ela pediu para que ele a procurasse quando saísse daquele lugar e ele saiu.
Já era um velho quando deixou o presídio.  Procurou a filha e viveu feliz por um tempo. Estava tudo indo bem em sua vida. Sua filha já tinha uma filha que era quase mulher e ele gostava de ser avô, mas um dia, o destino que sempre lhe fora cruel decidiu lhe atingir de novo. A neta morrerá sem qualquer explicação, afogada em uma piscina.  Foi o estopim para que nossa historia chegue ao fim.
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Ele voltou para as drogas e com vergonha da filha nunca mais voltou para casa. Nas idas para lá e para cá acabou na frente do meu prédio. Tentei encontrar a sua filha, mas na época ainda era inexperiente, e demorei bastante para conseguir este contato. Foram quase três meses quando a localizei. Tempos depois descobri que ela conseguiu encontrá-lo e o internou em uma clínica. Por mais que tivesse interesse nisso, eununca a conheci, mas ela me ligou algum tempo depois dizendo que ele havia fugido da clinica.
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Achei que aquela historia tinha ficado para trás, até que um dia recebi uma ligação. Era um amigo em comum que conhecendo a historia, me contou uma noticia que eu nunca havia imaginado. Ele havia localizado Jorge. Infelizmente, ele foi um corpo que virou noticia no estado após morrer de frio em um dos invernos tenebrosos. Um fim trágico para uma história trágica.
Jonas Martins
Enviado por Jonas Martins em 24/07/2016
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