CONVERSANDO COM DEUS.
Desde pequeno eu quis fazer algumas perguntas ao Criador.
Não preciso dizer que nunca tive essa oportunidade.
Hoje de manhã a caminho do Hospital eu parei no Posto de Gasolina para abastecer.
Junto à bomba de combustível havia um senhor de boa aparência olhando-me de maneira estranha.
Tanto me olhou que eu tive quer sair do carro e ir ao seu encontro perguntando.
---- algum problema posso ajudá-lo em alguma coisa?
Ele sorriu dentes claros, olhos brilhantes, um rosto amigo.
--- não... Na verdade acho que sou eu que estou aqui para ajudá-lo. – Ele colocou a mão em meu ombro, senti um alívio momentâneo como se todos os meus problemas estivessem sendo sugados por aquele estranho homem.
--- perdoe-me, mas não o conheço, e, portanto, não vejo o porquê da sua ajuda.
Ia caminhando em direção ao meu carro, quando ouvi a sua voz, suave, porém autoritária.
--- ouço sempre suas lamúrias. Diz que gostaria muito de me interrogar, agora parece ter medo das respostas.
Fiquei por alguns instantes estático. Voltei-me e olhei para o estranho.
--- deve estar havendo algum engano, eu não o conheço, e jamais quis lhe perguntar coisa alguma, porque como eu já disse, você é um desconhecido.
Caminhei em direção ao carro abrindo a porta.
Ia fechá-la quando ele impediu.
--- muitos me chamam, muitos me questionam, outros me negam, e outros usam o meu nome em vão. Você está incluso em qual grupo?
Até aquele momento, ainda não estava entendendo direito o que estava ocorrendo.
Creio em Deus, mas acreditar que Ele estava ali, em 2016, querendo entrar em meu carro, convenhamos, era algo inacreditável, para não dizer surreal.
Precisava tirar a dúvida que naquele instante começava a deixar minha mente confusa.
--- afinal de contas quem é você. – indaguei, já vendo-o sentar-se no banco de passageiro, e eu tomando o volante nas mãos.
Novo sorriso, desta vez parecia achar graça na situação.
--- eu sou Ele.
--- Ele, quem? – insisti, olhando em seus olhos que tinham uma expressão de paz, tranqüilidade e amor.
--- Sou aquele que tanto questiona, e que diz não ouvir respostas, estou aqui agora para solucionar suas dúvidas.
Por um relance, não consegui dar partida no carro, depois, com as mãos menos tremulas, acionei o carro e parti.
Não podia acreditar no que estava acontecendo, mas se Ele se denominava o Criador, nada mais justo que eu tirasse as minhas dúvidas.
--- Pois bem, não acredito que seja quem diz que é, mas quero ouvir a sua resposta para as minhas indagações.
Ele fez um trejeito comum característico de um ser humano com os ombros. Como se dissesse pergunte.
Eu perguntei.
--- Se você é Deus, qual a sua forma original?
--- Tenho a forma que a sua mente desejar; homem, mulher, criança, líquida, sólida, volátil, ocupo todos os espaços, estou em todos os lugares, ou seja, estou aqui, estou ali, estou acolá.
Eu ri.
A resposta tinha sido agradável, e preenchia os ensinamentos que eu tinha tido nas minhas aulas de religião.
--- entendo. Qual a sua crença, católica, islâmica, budista, indu,evangélica e tantas outras espalhadas por este mundo.
O carro seguia lentamente pela avenida,eu, naquele momento não queria chegar ao Hospital, queria ouvir todas as respostas as minhas perguntas.
--- todas têm origem em uma só, portanto, as modificações que o Homem fez e faz não são produzidas por mim, eu simplesmente preguei o Amor, a Fraternidade, o Respeito, a Honestidade, a Fidelidade, o bem ao seu próximo, infelizmente, vocês modificaram os meus ensinamentos e ainda modificam, provocando atritos, desavenças, e a Guerra.
Novamente, a resposta era satisfatória.
--- porque tanta desigualdade, porque tanta pobreza, porque tanta crueldade, porque tantas guerras, porque tantos crimes.
Nada parecia deixá-lo nervoso. Olhou para uma Igreja Católica pela qual passávamos, depois olhou um Templo Islâmico, e uma Igreja Evangélica. Só depois respondeu.
--- criei o homem puro como à água mais límpida que você possa beber, porém, eu não posso direcionar os seus pensamentos, isso quem faz são os pais, a família, a sociedade que vocês criaram. Eu não mato, eu não cometo crimes, eu não roubo, eu não provoco doenças, eu não posso interferir nos pensamentos que cada um tem essa não é a minha função, se vocês se tornam assassinos a culpa não é minha, se vocês roubam a culpa não é minha, se vocês fazem à guerra a culpa não é minha, se vocês não seguem os meus ensinamentos o fazem porque não o querem. Não criei seres humanos bons, e outros ruins, não criei pessoas pobres e outras ricas, isso é vocês que criaram cada um escolhe a maneira de viver.
--- quer dizer que a culpa é nossa.
--- claro... por acaso você acha que eu mataria alguém, que eu provocaria a doença em alguém, que eu ensinaria como provocar a Guerra, isso tudo são vocês que provocam, cada um olhando apenas em seu interesse.
Eu já estava quase chegando ao Hospital.
--- Em quem eu devo acreditar. Como posso me tornar um ser humano bom?
--- Eu não mando, eu não peço, eu não obrigo cada um deve seguir os ensinamentos com que eu os criei, AMOR, COMPREENSÃO, AMIZADE, CARINHO, PAZ, LIBERDADE, E RESPEITO AO PRÓXIMO, porém, os próprios orientadores das religiões estão deturpando os meus ensinamentos, provocando uma verdadeira Guerra de conceitos e dogmas, ou vocês modificam a maneira de agir, o final será breve.
Parei o carro no estacionamento. Distrai-me por alguns poucos segundos ao passar pela cancela e colocar a tarjeta eletrônica. Quando voltei o rosto para o meu passageiro, o banco estava vazio.
Estacionei o carro e fiquei quieto, tentando imaginar o que tinha acontecido. Foi quando, o guarda da guarita veio ao meu encontro.
--- bom dia Dr. Claiton, o senhor está bem?
Achei a pergunta estranha, mas lhe dei a resposta.
--- sim. Estou muito bem, por quê?
O guarda coçou a cabeça.
--- É que o senhor passou pela guarita falando sozinho, como se alguém estivesse ao seu lado, quando na verdade não havia ninguém, eu pensei que algo de errado estava acontecendo.
Sorri.
--- está tudo bem.
Imaginem, se eu lhe contasse que tinha dado carona para Deus, e que Ele tinha me dado respostas para várias perguntas que me atormentavam desde criança. Com certeza diria que eu estava louco.