Esperanças, gentilezas e sonhos

Acordei as cinco e quarenta da manhã com minha mãe me chamando:

- Acorda filho, vai preparar suas coisas, seu pai e seu irmão já saíram.

A vontade de dormir era enorme, os olhos pesavam uma tonelada e o corpo parecia não responder, mas eu tinha que fazer a minha parte. Antes de sair minha mãe me disse:

- Meu filho, tenha cuidado. Não posso viver sem vocês.

Eu sabia que ela ficava agoniada quando saíamos, um dia eu disse-lhe, tchau mãezinha, já me vou, mais tarde estou de volta junto com meu pai e meu irmão, esteja com Deus. Dei uma volta na quadra e vagarosamente, como um ladrão na noite, adentrei nossa casa, e da janela do quintal avistei-a a chorar, segurando a foto de Santana, meu irmão mais velho, falecido vítima de bala perdida na cidade do Rio de Janeiro, e soluçando ela pedia a Deus que nos acompanhasse. Por vê-la chorar, as lágrimas também me invadiam e inundavam a minha alma. Pobre mãezinha, uma mulher tão valente, batalhadora, viu o demônio de perto inúmeras vezes e perseverou, teve fé, e sempre se levantou em todas as vezes que a vida lhe derrubava, salve mãezinha que tanto eu amo. Meu querido irmão, um dia sei que a gente vai se encontrar, a vida é breve, é dura, me agarro no seu sorriso e no jeito com que me olhava, me aconselhava, alguns falam que foi o destino, se foi realmente, o destino é meu inimigo, por ter o tirado de nós, esteja bem meu irmão, até breve.

O meu pai, coitado, sempre foi muito trabalhador, não tinha terminado o primeiro grau, mas sempre nos dava uma caneta no lugar de uma enxada. Sempre dizia que o que poderia nos proporcionar uma vida melhor, eram os estudos, ele dizia que o homem da casa era ele, e era sua obrigação trazer comida para todos, pelo menos enquanto não éramos homens feitos, diplomados, meu pai era um homem bom. A morte de Santana foi um divisor de águas em nossas vidas, mudou toda a rotina que tínhamos, a tristeza pairou na minha família e demorou muito tempo para sair, na verdade ela não saiu, sempre esteve lá, nós é que procurávamos nos distrair um pouco para não enlouquecermos, para não nos revoltarmos com a sociedade cruel a que vivemos. Toda esta realidade difícil, fez com que meu pai se transformasse em uma espécie de justiceiro, mas não aquele que faz justiça com as próprias mãos, ele criou um grupo que chamava-se semeadores da paz, e aos finais de semana nós íamos as ruas conversar com as pessoas sobre a violência, de todo tipo, e plantar sementes boas no coração das pessoas, para então, criar uma rede de sementes, para que num futuro próximo algumas possam dar frutos, e então iniciar-se um processo onde as pessoas sem perceber, seriam melhores, para elas e para os outros. Neste projeto, todos tinham a sua função, meu pai vendia esperança, meu irmão vendia gentileza, e eu vendia sonhos. Nós ficávamos no sinal da avenida Machado de Assis, onde três tempos regiam o maluco trânsito de nossa cidade maravilhosa e nos permitia conversar com as pessoas e distribuir gratuitamente, pequenos textos, que deixarei escrito logo abaixo, para quem sabe vocês também sejam nossos possíveis clientes.

“ Primeiramente obrigado por estar destinando alguns minutos de sua vida para ler esta mensagem. Nosso objetivo é trazer palavras aconchegantes a todos vocês, de modo que tragam um pouco de alívio para a dura rotina destes nossos tempos atuais. Nossa sociedade passa por um período difícil, enfrentamos uma violência constante, física e moral, e nos sentimos abandonados. Pedimos que tenham esperança, pois podemos mudar o futuro. E como mudamos o futuro? Plantando boas sementes no coração das pessoas. Estas sementes podem ser de diversas formas, como a semente da gentileza. Pedimos que sejam gentis, gentileza gera gentileza, criemos então um círculo de gentileza e vamos aumentá-lo de maneira que este círculo, logo seja do tamanho da terra! Pedimos que tenham sonhos, os mais maravilhosos do mundo, pois seus sonhos se tornarão realidade, acreditem, conseguiremos juntos fazer de nosso planeta um lugar melhor. O futuro só poderá ser diferente se fizermos a diferença no presente. ”

Maicon Moso
Enviado por Maicon Moso em 07/09/2016
Código do texto: T5753798
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