Circo da vida

— Acorda...

Uma voz rouca a acordara. Acordara? Ela olhou para um lado e para o outro. Na casa tudo escuro, silêncio quebrado apenas por algo elétrico ligado. O chuveiro. A voz rouca era masculina. Falava mais, a garota não entendeu, mas conhecia aquela voz... Dormiu. Tinha sonhado.

— Acorda...

A voz insistia. Acordou novamente. Tudo escuro. O barulho do chuveiro e nada mais. Talvez algumas panelas de alumínio estivessem batendo num lugar longe dali. Era um sonho? Não era real, acabara de apagar as luzes para dormir. Impossível ser hora de... Dormiu.

— Acorda!!!

Abriu os olhos assustada e confusa. O coração disparou, parecia bater contra o peito, os pulmões pareciam não caberem na caixa do tórax! Então, automaticamente, ela jogou o cobertor de lado e levantou-se num salto! Ficou tonta, a visão — que já não enxergava nada naquele breu — escureceu, ficou momentaneamente cega, sua cabeça pesou de dor e o corpo de uma garota seminua caiu no chão estatelado. A visão voltou. O corpo doía, apoiou-se nos braços e levantou-se novamente, com do guarda-roupa ali próximo e acendeu a luz.

— Alguém me chamou? — perguntou sonolenta.

— Acorda e vai tomar banho! Vamos viajar, esqueceu?!

— Ah é... — concluiu desinteressada.

Ela abriu os olhos. Estava claro e alguém lá fora a chamava insistentemente.

"Hoje é sábado?" pensou com os olhos pesados, e ainda deitada na cama.

"É!!! Hoje é sábado! Criatura confusa."

Saiu correndo, trocou de roupa e saiu para a rua.

"Casamento indiano? Estranho... Cadê ele?"

Mulheres só de saia passeavam tranquilamente, ela não. Cobria o colo com as mãos. Logo, virou homem.

"Aaaah! Terremoto! Terremoto!

A Terra está saindo da órbita!"

Pessoas corriam loucas de um lado a outro. Brigavam.

Uma criança brincava com um planeta não mais tão azul. Sacudia e dava gargalhadas gostosas. Tinha cabelos roxos e sardas no rosto, nascera assim. Quantos anos a idade? Esse é um fator desinteressante. Basta saber que ainda não sabia andar ainda. Gordinha, não tirava os olhos que brilhavam no brinquedinho circular e acinzentado.

Brinquedo?

— Não, Sofia! — lá vinha a mãe — Não pode brincar com o trabalho da mamãe! — repreendeu pegando com jeitinho de mãe a pequena bolinha cinza das mãos da criança e ajeitando na estante da sala extremamente branca.

Mudou a bolinha de posição, entortando um pouco para a direita. Virou a cabeça "Não... Acho que desse ângulo o mundo parece melhor..." e mexeu no mundo mais uma vez. "Bem melhor, agora!" sorriu satisfeita.

— Agora vem aqui Sofia... — pegou a criança no colo e deu um brinquedo para ela. Na caixa um nome: "O circo da vida"

Sofia pegou o palhaço, balançou-o e pensou:

"O palhaço pinta a cara para viver no palco da ilusão."

Sofia cresceu. Manteve o palhaço no bolso, aquele que no circo da vida apenas roubara seu coração...

Sabrina Vieira
Enviado por Sabrina Vieira em 22/07/2007
Reeditado em 06/10/2012
Código do texto: T575569
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