A DELEGACIA.

No início agora de setembro, fomos para Portugal, sempre tive um enorme interesse em conhecer a terra dos meus ancestrais.

Optamos eu e Aline a desembarcarmos primeiramente em Lisboa, e posteriormente irmos para outras cidades e finalizando a viagem em Porto.

Passamos alguns dias em Lisboa, conhecemos lugares maravilhosos, e pontos turísticos que muito nos encantou.

Fomos visitar a cidade de Fátima, para agradecer esse encontro de duas almas, que preenche totalmente todas as nossas esperanças anteriores.

Em Lisboa, compramos uma quantidade enorme de vinhos, bebida que muito apreciamos, de várias qualidades de uva, o que fez com que a nossa bagagem ficasse muito superior ao peso que tínhamos embargado. Porém, a história que quero contar é outra, e ocorreu em Lisboa, gostei, porém mais de Porto, cidade maravilhosa, que quero voltar novamente a desfrutar da sua beleza, do seu carisma, e da recepção amorosa dos seus habitantes com os brasileiros.

O metro de Lisboa, e de Porto são rápidos, eficazes e muito bem sinalizados.

A passagem gira em torno de 1.40 euros, até 1.90 euros, caso você compre para usar o transporte por 24 horas você paga 6.50 euros e tem direito a usá-lo em todas as linhas. Caso recarregue o cartão, você tem um desconto de 0.50 euros, ficando a passagem por 24 horas em torno de seis euros.

Como vínhamos usando o metro para todas as nossas andanças resolvemos recarregar os nossos tickets por 24 horas em uma estação do metro em Lisboa.

O total ficaria em 12 euros.

Aline pegou uma nota de 10 euros e colocou na máquina e pediu para que eu colocasse o meu cartão para recarregar. Foi o que eu fiz.

Assim que caíram as moedas, ela pediu que eu retirasse o meu cartão, porque ele já estava recarregado. Colocou três moedas de dois euros e recarregou o cartão que a ela pertencia.

Estávamos prontos para continuar a nossa jornada pela margem do rio Tejo, e conhecer mais alguns locais históricos.

Tudo transcorreu perfeitamente, na volta entrou no famoso bondinho elétrico de Lisboa, que naquele horário mais parecia uma lata de sardinha Portuguesa, porém não com o odor e o sabor característico dessa guloseima, se é que vocês me entendem.

Estávamos indo para outro marco histórico de Portugal, a Praça dos Restauradores, quando o bonde parou e entrou quase uma dezena de policiais, que controlam os veículos, e são chamados de carteristas.

Pediram o ticket para Aline.

Ela entregou, passaram em uma maquina semelhante a essas de cartão de crédito, comunicaram.

--- tudo certo senhora.

Pediram o meu ticket, que entreguei calmamente na certeza de que tudo estava certo.

Portugal inteiro tem o costume da leitura, você contra livrarias praticamente de quarteirão em quarteirão, e em todas as estações do metro. Eu gosto de ler e escrever, todos os meus amigos sabem disso.

Fique esperando a devolução do meu ticket, mas ele não veio.

O carterista indicou a porta de saída do bonde elétrico dizendo que eu estava lesando o governo de Portugal, e que seria multado, que precisava descer.

Não estava entendendo nada do que acontecia. Porém, comuniquei que minha esposa desceria junto comigo, pois estávamos juntos e que não iria a deixa-lá seguir a viagem turística sozinha.

--- sem problema. – disse o policial. Descemos.

Explique que nós tínhamos feito a recarga dos dois cartões. Mostramos os recibos que tinha sido emitido pela máquina. O policial sorriu.

--- brasileiros...

--- sim. – ele riu, como se quisesse dizer, como dizemos aqui no Brasil, quando cometemos algum erro grotesco, coisa de Português.

Explicou.

--- quando vocês colocaram a nota de 10 euros, e colocou o seu cartão senhor, ele não foi validado, as moedas que caíram foram apenas a troca dos 10 euros em moedas para que pudesse comprar o ticket, além do mais 6 euros com 6 euros, são 12 euros, e não dez, acho que isso é aqui em Portugal ou no Brasil. – ele sorriu. Percebi em seu sorriso um tom de sarcasmos, mas ele tinha razão. Continuou. --- além dos mais, quando você entra no ônibus, e passa o cartão, tem que ascender a luz verde.

Era verdade. Sabíamos disso, porém como o ônibus estava transbordando de gente, eu não verifiquei se o meu cartão tinha recebido o sinal verde.

Concluindo, eu tinha cometido uma penalidade severa.

Comprei uma passagem para podermos sair dali, que paguei 2.85 euros, e que o próprio carterista me vendeu por sua maquina eletrônica.

Ele pediu o meu passaporte eu lhe dei de bom grato. Fez alguns preenchimentos e entregou-me uma declaração de autuação.

--- o que é isto, senhor. – perguntei achando que estava tudo certo.

--- uma multa pela inflação cometida são 285 euros.

--- o que, como assim.

--- pois é, aqui em Portugal, andar no ônibus elétrico sem pagar à passagem a multa é 100 vezes o valor da mesma, você quatro dias para pagar ou justificar o acontecido.

Fiquei um tanto nervoso e irritado, porém, não quis perder mais tempo pegamos o endereço da delegacia onde eu teria que me apresentar e continuamos o nosso passeio turístico.

No dia seguinte, lá fomos nós eu e Aline, pagar ou justificar o ocorrido.

Levei dois livros meus, que são simples, no intuito de agradar alguém e de não pagar a multa é claro.

Chegamos ao edifício e a porta abriu-se automaticamente, um guarda veio até nós. Mostrei o papel da multa, e ele indicou o caminho, tínhamos que subir uma escada. Perguntei.

--- gosta de ler.

--- claro que sim.

Retirei os dois livros da bolsa de Aline, e lhe disse.

--- são livros meus, escolha se quiser um deles.

Os olhos do guarda se encheram de uma alegria, como criança que ganha um pirulito enorme, ou um sorvete delicioso.

Escolheu. Perguntou se depois que lesse se teria como se comunicar comigo. Mostrei que havia endereços na última página. Ele agradeceu sorridente e nos encaminhou ao agente, perguntou a minha idade, e me colocou já sentado frente a uma mulher de feições duras, de poucos amigos.

Mostrei o auto de inflação.

Ela foi seca.

--- são 285 euros.

--- não tenho esse dinheiro. A senhora gosta de ler.

--- claro.

Peguei o meu segundo livreto e lhe dei. Ela estava com o meu passaporte na mão.

Conferiu os nomes.

--- você é escritor?

--- sou médico, mas gosto de escrever. – por incrível que pareça ela sorriu.

--- que bom que o senhor é escritor, tome, justifique o ocorrido, e tudo vai ficar certo, sei que foi um engano, um escritor não cometeria esse delito.

Pensei com meus botões.

-SERÁ QUE UM MÉDICO COMETERIA, FOI AI QUE PERCEBI QUE SER ESCRITOR EM PORTUGAL É MUITO MAIS IMPORTANTE QUE SER MÉDICO, ADVOGADO, DENTISTA OU POLÍTICO.

Fiz à justificativa e levantei-me agradecendo o atendimento.

--- vou ler o livro, e como posso me comunicar.

Novamente mostrei a última página, como havia feito com o guarda que tinha ficado com o primeiro livreto. Ela sorriu, agradeceu o presente, e eu e Aline saímos para nova caminhada, cientes que os livretos editados pelo meu filho Andre, da CASA DA CULTURA, tinha me ajudado a sair de uma enrascada além mar.

Ton Bralca
Enviado por Ton Bralca em 16/09/2016
Código do texto: T5762753
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