No anfiteatro

vai, ajeita logo essa porra. esbravejava, enquanto eu tentava encaixar meu pau entre a perna da bermuda dela. a posição era desconfortável. meio sentada, meio de costas. uma merda. mas era o que a gente tinha, fazer o quê? nas segundas, principalmente no começo do semestre, o anfiteatro da ufrn fica vazio a noite. quase ninguém aparece por lá. só aqueles guardinhas que ficam na ronda, mas isso é uma vez perdida. eu mesmo nunca vi. meu pau torto e todo melado da lubrificação dela, que gemia a cada pulo no meu colo, era uma sensação estranha, gostosa e desconfortável ao mesmo tempo. e a camisinha? perguntei dez minutos atrás. ah, mete essa porra assim mesmo. os carros que passavam pela avenida não conseguiam nos ver. só os do viaduto, mas bem de longe. esse negócio de ficar sem transar muito tempo é foda. mal enfia, já quer gozar. puta merda. nessas horas, nem os exercícios de respiração ou pensar em coisa ruim pra diminuir o tesão funcionam. sai, sai, sai. gritei, tirando-a de cima de mim. ora, já? me olhava indignada. qualquer desculpas que eu tentasse dar não ia importar. quando a gente é novo até rola um desespero, mas depois dos trinta, meu amigo, broxar ou gozar em cinco minutos não são coisas que te atordoam tanto. limpei a porra que melou a bermuda e a mão numa camiseta reserva que sempre levava na bolsa. ela não reclamou, apenas fez cara de nunca-mais-dou-pra-você. andamos calados até a parada do via direta e um carro da ronda do campus passou por nós ao atravessar a rua. o vinte seis não demorou e veio lotado como sempre. nos despedimos com um beijo de nunca-mais-nos-veremos no rosto e eu subi naquele aperto infernal. pensando que amanhã vence o cartão, a pensão da minha filha e que tá faltando ovo na geladeira lá de casa. é, viver tá foda.

Gonzaga Neto
Enviado por Gonzaga Neto em 22/09/2016
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