'' DELICIOSOS '' CHÁS DAS TARDES '' ''

Cidade grande, rica, tradicional ''paulistona quatrocentona'', cidade que se formou e já nasceu rica, no interior paulista, barões do café, grandes fazendas, enormes casarões e familias abastadas trazendo de tudo das '' europas'', cidade onde a lingua francesa predominava nos ''chá das cinco'', matronas de narizes arrebitados e leques se abanando para com fala mansa e nos '' pés dos ouvidos '' se cochichava ( cruzes!!! seria não...coxixava?..sei lá, adoro esta palavra e gosto de usar e abusar...adororo fofocar...dilicia!!! ) de tudo e de todos.

Cidade que no fim do seculo 19 e começo dos 20 já tinha estrada de ferro, trens vindo e indo para a capital do estado, bondes puxado a cavalo e logo logo a energia eletrica chegando e trazendo os bondes eletricos, teatros, cinemas, telefones, comercio intenso e vida social mais intensa ainda, bons hotéis e dinheiro a rôdo.

E costumes europeus foram tambem chegando, o chá das cinco foi um deles e bons restaurantes, cafés e docerias foram se abrindo pelo centro da cidade, primeiro eram de portas fechadas, depois as portas se abriram e mesas e cadeiras nas largas calçadas, era mesmo uma copia de qualquer boa cidade europeia.

A vaidade imperava, se desfilava cada dia com uma roupa diferente, chapéus deslumbrantes, ultima moda e quem não assim se comportava exclusão social na certa...vaidade!!!

A Baroneza Domitilia, filha de barão e baroneza e agora tambem baroneza pelo casamento, desfilava toda tarde levando pela mão o pequeno barãozinho Lui Gerard, ( era moda batizar filhos com nomes franceses ) pelas ruas do centro, elegante, altiva, orgulhosa só dava prosa para quem lhe interessasse, e eram poucos os que lhe interessavam, cada dia uma roupa diferente, Lui Gerard tambem, vinha sempre por volta das quatro da tarde, desfilava até perto das cinco, escolhia um restaurante, café ou doceria, elegantes e caras, tomava seu chá das cinco junto com o filho, muitas vezes com um grupo de amigas, terminava o chá por perto das seis, desfilava mais um pouco e se ia,, no dia seguinte tudo se repetia.

Foram quase trinta anos desta rotina.

A moda foi mudando e a Baronesa Domitilia foi mudando tambem, dos vestidos longos até os famosos ''tailleurs'', mas sempre elegante e Lui Gerard a acompanhando.

O Barão faleceu e deixou toda a sua fortuna para ela e para Lui Gerard, venderam a fazenda, se mudaram para um apartamento elegante no centro, dois andares, e no térreo ficava uma das mais elegantes docerias da cidade e a Baronesa, mesmo idosa, toda tarde por volta das quatro descia, andava um pouco pela calçada, desfilava sua elegancia agora com a cabeça toda branca, tomava seu chá das cinco e Lui Gerard a levava pelo braço, e assim era todo dia, toda tarde.

Uma manhã veio a noticia...a Baronesa havia falecido na noite anterior, morreu calma e serena, a idade a levou, seu enterro foi concorrido e mesmo as duas horas da tarde com sol forte e muito calor havia aglomeração no cemitério para prestar a última homengem a elegante Baronesa, e nesta tarde a doceria ficou triste, a Baronesa não viria, pessoas sentadas 'as mesas se decepcionavam com isto, afinal a Baronesa e seu filho haviam virado atração turistica no centro da cidade e o disque disque corria solto e todos se perguntavam....

"" Como estará Lui Gerard? o que o pobre filho agora fará? , solteiro, sem amigos, sempre junto com ela, não se desgrudavam um só minuto e agora? e bla bla bla..

Quatro e quinze da tarde e todos os olhares se voltaram para a calçada em frente a doceria...uma mulher elegante vestida na última moda, tailleur de duas peças na côr cinza, sapatos altos, chapéu, bolsa, luvas e andar desinibido, desfilava para cima e para baixo na calçada e todos os olhares, e bocas abertas e queixos caidos viram quando ela em uma mesa se assentou, pediu o chá das cinco, com bolo ingles por favor, sim? seu garçom...educada, polida, de olhar baixo e enviesado, tomava seu chá da tarde aos golinhos, comia seu bolo ingles aos bocadinhos, sorria e mostrava uns dentes brancos e lindos, tinha tirado as luvas e uma mão bem feita e unhas bem tratadas apareceu, pintadas na côr vermelho sangue, maquiagem perfeita, batom e tudo o mais....batom vermelho sangue, claro!!!

O maitre da doceria arriscou no frances e ela na hora lhe respondeu na mesma lingua, ele dizendo e ela escutando e respondento....

Meus pêsames Lui Gerard, foi uma grande perda...

Foi mesmo , maître Gaspar, foi mesmo, uma grande perda, não foi justo, isto não deveria ter acontecido, não é natural acho eu, o natural penso eu é uma mãe ir embora antes do filho nunca o filho antes da mãe, foi uma grande perda mesmo, mas enfm o que se há de fazer não é mesmo? Lui Gerard se foi, vai me fazer muita falta a sua ausência, se vai, vou sentir saudades sempre...sempre.

Maître Gaspar de boca aberta e queixo caido não acreditava no que via e ouvia e nem ninguem mais tambem,

E durante mais de duas décadas a doceria virou atração turistica para ver a elegante senhora que toda tarde desfilava pela calçada vestida com elegância e distribuindo sorrisos, vinha pelas quatro, desfilava, as cinco tomava seu chá da tarde, com bolo ingles, biscoitos franceses, subia para seu apartamento e da elegante senhora nada mais se via ou ouvia até a tarde do dia seguinte.

Lui Gerard nunca mais foi visto desde o dia do enterro da Baronesa Domitilia...

Lendas e historias e tambem '' estorias '' da cidade grande que nasceu rica, endinheirada que tinha de tudo e dizem que ainda tem....cruz credo!!! cada uma, eu heim!!!!

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AMELIA BELLA
Enviado por AMELIA BELLA em 18/10/2016
Código do texto: T5795048
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