Subindo para o céu.

Eu sou, Lúcia, uma mulher casada, com um filho, tenho 55 anos de idade, hoje pra mim foi o começo do fim de minha vida.

Se existe o fim do mundo, hoje o mundo começou a desabar pra mim. Fui ao médico, fazer controle de um câncer de mama. O médico me falou que de câncer não morreria, mas meu rosto começou a mudar, sentia meu rosto grande algo de errado estava acontecendo, voltava ao médico e ele só fazia exames na mama, mas eu sabia que algo de estranho estava acontecendo comigo, minha cabeça doía, sentia desmaios. Até que procurei outro médico e esse me deu a sentença final que eu estava com câncer na cabeça e que não tinha mais jeito pra mim.

Não consegui nem me levantar da cadeira do médico estava sozinha nesse momento do diagnóstico, a visão ficou turva e o médico ali sereno e como se nada tivesse acontecendo comigo, como se fosse minha obrigação aceitar a morte com elegância, galhardia, ter nobreza de alma. Muita loucura isso.

Por um momento tive vontade de esganar o médico, entrei em desespero comigo, eu acho que queria arrumar um culpado pela minha doença e queria descontar logo nele pobre coitado, um trabalhador fazendo o serviço dele.

Me encontrava no décimo andar, estava sozinha no elevador minhas pernas completamente bambas, encostei minhas costas em uma das paredes do elevador e fui escorregando até ficar com as nádegas no chão, estava de vestido e não me importei com isso, estava completamente alienada ao mundo , que já não me pertencia mais, com a sentença de morte conhecida e estabelecida, ia me importar com quê, não sabia nem como dizer aos amigos e parentes próximos dessa minha viagem. Estava com raiva de tudo e de todos.

Difícil sentir a sentença de morte e ficar impassível, jamais imaginei que isso aconteceria comigo,mas aconteceu comigo e agora o que fazer, correr pra onde, o que dizer pra mim nesse momento, parece louca conversando comigo, mas foi o melhor que encontrei nesse momento pra tentar me acalmar, não quis ligar pra ninguém.

Me pergunto onde errei, mas eu procurava periodicamente o médico e ele sempre me dizia que de câncer não morreria, porque fui acreditar nele, porque não consultei um outro médico, porque não procurei uma outra opinião, agora vem os porquês e já não adianta mais nada.. Tudo agora é perturbador.

Me sobe uma raiva de ir ao consultório do outro médico que eu fazia o acompanhamento periódico, e ele não percebeu esse câncer apesar das minhas queixas, que vontade me dá de esfregar esse diagnóstico na cara dele, sei que não ia resolver, mas pelo ao menos já que vou morrer mesmo morrer em paz.

Lembrete; se sentirem minha falta é porque morri.

luiz remidio
Enviado por luiz remidio em 29/10/2016
Código do texto: T5806930
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.