ESCONJURO...

Caminhando abstraído, literalmente ‘pensando na vida, com passos normais, nem lento nem muito apressado, Ezequiel como sempre fazia, se encontrava impecavelmente vestido com um terno e tendo em suas mãos uma pasta de courvin, seguia como comumente faz em direção para sua mais recente graduação por uma avenida denominada Estrada das Lágrimas, que se situa parte na cidade de São Caetano do Sul e parte na cidade de São Paulo, que segundo o que consta informado no Blog Comentando a História, recebeu este nome devido ao fato de que em 1944, pracinhas partiam de uma árvore que até hoje existe no início da Via Anchieta (SP), e suas mães ficavam ao longo da do local para se despedirem de seus filhos e, naturalmente, não podiam conter as lágrimas, surgindo daí a denominação que perpetuou como ESTRADA DAS LÁGRIMAS!

Somente para constar, informo que nesta mesma via, não muito longe de onde eu de forma contumaz ainda transito, há um cemitério denominado Cemitério das lágrimas...

Num repente, num local ermo, já se aproximando do seu destino, onde deveria cruzar a avenida e seguir em outra rua que ‘nascia’ na Estrada que transitava, Ezequiel começou ouvir um diálogo que parecia ser realizado por um casal e que se encontravam não muito longe dele, caminhando na mesma direção.

Inicialmente ouviu, como se a fala partisse de uma figura feminina:

---- E então? Como ficou aquela invocação de belzebu que fizemos na semana passada?

Outra voz, que soou aos ouvidos do rapaz como sendo masculina, respondeu:

---- Não sei... Parece que deu errado...

Ao que a ‘voz feminina’ retrucou:

---- Mas foi feito tudo certo! Matamos aquela galinha preta e servimos para ele...

---- Creio que ele não gostou... Não aconteceu nada!

---- Vamos matar outra galinha preta. A outra nós estrangulamos...

Ezequiel caminhava imerso em seus pensamentos, mas não deixava de ouvir a lúgubre conversa...

Parou na calçada aguardando que um carro passasse para cruzá-la e ouviu ainda por uma vez o de voz aparentando ser masculina dizer, antes que iniciasse a travessia:

---- Acho que devemos é levar um terno de presente para ele...

Com curiosidade mórbida, logo que chegou ao lado oposto da avenida, virou-se e olhou para o local de onde tinha vindo, podendo enxergar dois jovens estudantes, com roupas de colegiais, sendo um extremamente jovem e outro já adolescente que, com feições peraltas, tinham em suas faces um sorriso contido. Ai deduziu que certamente a voz que lhe soou como feminina era do extremamente jovem, consequentemente restando ao adolescente voz mais masculinizada.

Ezequiel não pode conter um sorriso enquanto pensava que por estar de terno e portando a pasta de courvin, provavelmente os estudantes resolveram fazer uma brincadeira pensando que aquele que sucediam era um militante evangélico...

Ainda sorriu ao pensar que, embora permanecesse durante quase todo o diálogo a ele completamente alheio, não deixou de ‘tremer nas bases’ quando ouviu a alusão final que fizeram...