Aparências

- Moça, quanto custa aquela S-10?

Com os olhos para a tela do computador, a atendente responde.

- Depende da forma de pagamento senhor.

- À vista, em espécie.

A moça levanta os olhos e observa o homem, de chinelas franciscanas, calça surrada que está parado em sua frente.

Ela o observa e diz: - Senhor, acredito que queira o modelo de usados. Para isso, vou encaminha-lo a nossa loja de revenda de usados.

- Não moça. Quero o modelo novo. Zero.

Mais uma vez, a vendedora o olha. Não consegue acreditar no que ouve.

- Acredito que está havendo um equívoco. O senhor não teria condições de pagar. Ela é muito cara.

- Só posso dizer se tenho condições ou não quando a senhora me disser o valor. Responde irritado.

Discretamente, a vendedora aperta um botão. Imediatamente o gerente da loja chega e pergunta se está havendo algum problema.

De forma firme, o senhor que aparenta ter uns 60 anos, responde.

- Tem sim. Esta funcionária não quer me dizer o valor da S-10, modelo novo.

A vendedora explica ao gerente que ele quer comprar a S-10 zero à vista, em espécie.

O gerente da loja o olha com a roupa amassada, uma sacola nas mãos e não acredita que ele queira comprar um carro zero. Ele olha para a atendente e com um sorriso irônico diz:

- Meu senhor, a S-10 modelo novo, à vista, custa um dinheiro que tenho certeza o senhor jamais viu e nem sabe o quanto vale. Para o senhor, temos na nossa loja de usados uma F-1000, modelo 1992, que com certeza atende as suas necessidades.

Sentindo-se humilhado, o homem não perde a compostura e responde.

- O senhor acredita que não posso pagar porque me vê usando um chinelo franciscano, roupa velha e amassada?

Gerente e atendente se olham e começam a sorrir.

- Senhor, não é pelas roupas. Mas percebo o quanto o senhor é um homem sério, mas que de poucas posses e o valor deste carro, nem com meu salário, eu poderia pagar à vista. Explica o gerente.

Irritado com aquela situação. O homem coloca a sacola de dinheiro em cima do balcão e questiona:

- Ela é mais de cem mil? Por que se não for, tenho cem mil reais aqui, nesta sacola.

O gerente assusta com a resposta do homem e pede para que ele aguarde um pouco. Vai buscar os documentos para que possa efetuar a venda. Na verdade, foi chamar a polícia. Um homem daqueles não pode ter tanto dinheiro. Deve ser roubado.

A atendente fica com o senhor, em pé na sua frente. Sequer oferece uma água ou pede para que ele sente-se, enquanto aguarda. Ao contrário, demonstra nervosismo e ansiedade.

Ao perceber a demora, o senhor começa a andar de um lado para o outro. Demonstrando ansiedade e sempre segurando a sacola.

Passados dez minutos, um rapaz de terno entra, e vai em direção à mesma atendente que seu Carlos havia procurado.

A moça levanta-se. Cumprimenta aquele homem alto, elegantemente vestido e pergunta no que pode ajudar.

Ele, gentilmente responde.

- Estou procurando meu chefe. Deixe-o ainda pouco para comprar uma S-10 para a fazenda.

Ela pára. Observa os clientes na loja e diz:

- Acredito que ele não veio aqui senhor. Agora pela manhã só um pobre coitado entrou aqui dizendo que queria comprar uma S-10. Acreditamos até que ele louco ou que o dinheiro seja roubado.

Nesta hora o gerente chega dizendo que a polícia já está a caminho e pergunta pelo senhor que estava com ela. A moça responde que foi ao banheiro.

- Demorou Ferreira. Aconteceu alguma coisa? Pergunta o senhor que quer comprar a S-10, aproximando-se do rapaz de terno.

- Vocês se conhecem. Pergunta o gerente.

- Sim. Sou o motorista dele. Responde Ferreira.