A DECISÃO
Rafael ajeitou-se no banco, ficando mais próximo de Isabel. Ela olhou-o demoradamente, sentindo a intensidade da fixação dele. As palavras como que ficaram em suspenso durante aquele prolongado olhar. Depois ela tocou-lhe no rosto e deslisou no seu banco, dirigindo-se para a porta de saída do bar.
Manuela chegou momentos depois. Cumprimentou-o com um beijo na face.
- Então estavas de companhia?
- Sim, casualmente… Encontrei a Isabel e trocámos algumas palavras. Ela tinha um compromisso e saiu mesmo agora daqui.
Manuela olhou-o e sorriu, olhando para o copo que ele segurava. Percebera o embaraço dele. De súbito inquiriu-o:
- Que sentes por ela? Sê sincero, por favor…
Rafael demorou um pouco a responder, surpreendido pela pergunta.
- Sinto amizade… Ela é uma boa colega, já trabalhamos juntos há dois anos e nunca tive razão de queixa.
Manuela sorriu de novo e olhou-o com alguma tristeza.
- Sabes? – Disse ela. Quando entrei vi-vos e apesar da distância percebi a intensidade, a cumplicidade do vosso olhar. Sobretudo da tua parte. Acho que nunca me olhaste desse jeito. Nem sequer na cama. E já agora, anteontem, quando estávamos a fazer amor, pronunciaste o nome dela, bem o ouvi.
Fez uma pausa e continuou:
-Tenho a certeza que nunca conseguirei competir com ela. Não sentes o mesmo por mim… Disso não tenho dúvidas – e os olhos humedeceram, baixou-os para o balcão.
Rafael sentiu-se embaraçado pois Manuela era sempre incisiva e lia nele como num livro. Afinal até tinha razão. Ele amava Isabel embora durante todo aquele tempo em que trabalharam juntos nunca tivesse tido a coragem de lho dizer… E possivelmente nunca teria.
Ele olhou Manuela e pediu-lhe paciência.
– Querida, tenta compreender-me. Acho que nunca passaremos daqui. Isabel tem a vida dela, é casada e com filhos. Não desfaria a família por minha causa, de certeza que não…
- Pois é, Rafa, só te estás a esquecer de um simples pormenor: eu nunca viverei aceitando sobras, sabendo que o meu homem tem outra no pensamento. Por isso, não te empatarei. Seguirás o teu caminho, eu seguirei o meu. Embora me custe muito, sabes que sou decidida, não sou de meias-tintas. Amar-te-ei até seres apenas uma agradável recordação. Aliás, sabes bem que já passei por isso… Desilusões amorosas… Nunca aprendo, não é verdade? E quando puderes, passa lá por casa quando eu não estiver, leva as tuas coisas e deixa a chave no correio…
Rafael percebeu que ela, decidida como sempre, estava a colocar um ponto final na relação deles. Mais dois divorciados que seguiriam o seu rumo sozinhos…
Manuela levantou-se do banco e deu-lhe um beijo na face.
- Sê feliz, querido. – E afogando um soluço caminhou lentamente pela sala, rumo à saída, seguida por vários olhares masculinos, para além de Rafael.