Bicho-papão

Em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher.

Lá em casa, mãe e pai não se metem em briga de irmãos;

Irmão tem dessas coisas: empurrar, beliscar, morder.

A graça é que é coisa de momento, tudo vira risada depois.

Ela é a mais nova, mimada e dona encrenca.

Não dividia as coisas por nada e a mãe passava a mão na cabeça.

- Menina, deixa que ela é pequena.

- Pode até ser pequena, mas não é boba não. Sabe muito bem o que faz!

Eu dizia.

Certo dia, depois de uma confusão horrível, depois de tapas e xingamentos a mãe prometeu que Deus iria castigar.

Cresci com esse negócio na cabeça, que Deus não tá, o diabo é que tá.

Dormir de mal com o irmão atraia coisa ruim e eu nem ligava, fingia que era mentira.

Depois da briga, fui batendo os pés para meu quarto. A gente dormia junto, mas esse dia eu queria dormir sozinha.

Apaguei as luzes e fiquei resmungando baixinho o quanto ela era nojenta até que ouvi passos no quarto.

Passos pesados e arrastados.

Que frio na espinha!

Cadê a coragem de gritar?!

Falei baixinho:

- Carol, é você?

Os passos pararam.

Agora um pouco mais alto:

- Carol é você?!

Os passos pararam ao lado da cama, já estava imaginando o que iria ver quando tirasse o lençol que cobria minha cabeça. Aquela sensação que tava perto...

Ai eu gritei:

- CAROL É VOCÊ????

Carol chegou como uma louca abrindo a porta e atrás dela minha mãe desesperada por causa do grito.

- O QUE FOI GAROTA?

Ela ainda estava brava

Fui lá e dei um abraço nela, que eu tava arrependida da briga que era pra ela ir dormir comigo.

Na cabeça, só tinha: Obrigada meu Deus, que eu não tranquei com chave!