Jogo da conjugação

Um trago. Um gole. Aperto start e é a minha vida que reinicia. Estou de volta. Write?

Não me importa se é subjuntivo o modo.

Eu pediria que você escolhesse um verbo: Você diria: “viver”.

Veja o resultado:

Que eu viva para sempre ao seu lado, mesmo que pareça exagero. E ainda bem que a lei da atração do amor provocou nosso encontro. Você imagina o que seria da minha vida se eu vivesse sem saber da sua homérica existência? Se eu viver outras vidas, quero encontrar-lhe de novo.

Tanto faz se o modo é indicativo.

O verbo agora é...? “Sentir”, você gritaria.

Observa a conjugação:

Sinto muito, homem de corpo esguio e comportamento de cavalheiro muito cortês, mas agora que você me tornou essa indefesa mulher passional, vai está submetido ao meu peito por muito tempo – além do impossível! Sentira muitas vezes um vazio no meu corpo, daí você chegou e mostrou que eu sentiria, enfim, o preenchimento das lacunas do meu peito. Sentia muito enjoo ao ver os clássicos casais de namorados nas praças, abraçados, dando comida aos pombos e devorando-se em carinhos. No entanto, senti, desde a primeira vez que lhe vi (quando lhe observei de verdade, numa análise interna), que você me faria ter vontade de conhecer o infinito. Afinal, o que é o infinito senão uma crença dedutiva? O que é o amor senão uma crença nas realizações das vontades do coração? O que mais sentirei – senão amor – quando sua mão enrugada tocar a minha mão fria e também envelhecida?

Não se surpreenda se às vezes é imperativo o modo como falo.

Você, dessa vez, decidiria pelo verbo amar.

Presta atenção nesse modo:

Ame! É a ordem que os deuses lhe dão. Ame! Esta criatura doce, exótica, dramática e mandona. E até a segunda ordem o verbo é este: amar. Entendeu? Não ame!... A beleza sintática, analítica, pragmática, ou semântica. Não se deixe levar pelas bonitas palavras, o mais importante é que você entenda que é amor o que transpiro. Não me interessa o seu português diferente do meu na pronúncia de certas palavras, a exemplo dessa palavra plural: “bonecos”. Bonecos feios. Bonecos bonitos. Outros bonecos. Outros objetos. Outras escolhas. Vão-se os bonecos. Surgem outros bonecos. A vida fica. A vida continua sempre. Quero o seu carinho. Quero que você remexa os meus pensamentos. Quero que você desorganize tudo. E que fique de uma vez claro que a interpretação confirma aquela famigerada frase: “não há nada melhor para saúde do que um amor correspondido”. Desista você que sofre de amor não correspondido. Este é um conselho sábio e gratuito. Uma salva de palmas para o amor próprio.

Vamos tentar criar nosso próprio ritmo. Vamos dançar juntos, e, viver esse nosso amor eternamente.

Isso provoca efeitos sublimes, sabia?! Vou comentar um dos resultados inconscientes.

Sonhei, ontem, que você chegava para mim vestido de cavalheiro medieval, e então me conduzia num tango:

- Será que a jovem, dona dos meus sentidos, me concede esta dança?!, você me disse curvando um pouco o tronco e estendendo a mão com um sorriso.

Então, eu anuí com a cabeça, curvando o rosto e esticando o vestido:

- Pois não... Sr. dos galanteios mais gentis!

E, dessa forma, você me puxou contra seu peito; senti o seu olhar fixar no meu, seus lábios calculavam a precisa distância que alcançaria os meus, nossas pernas era um show à parte. Meu vestido tinha uma abertura que começava na perna e descia até os pés, o que dava uma flexibilidade ao meu corpo, suas pernas enroscavam nas minhas. Tudo isto refletia olhares curiosos, ainda que fossem críticos: “Ó céus! Que desonra! Que decadência! Uma atitude infame para uma mulher de família vestir algo deste tipo, dançar este tipo de coisa. Não conhecia isso. Será alguma espécie de valsa herética?!”, uma senhora, que fazia parte da platéia, cochichava com outra, ambas boquiabertas. E nós dois – indiferentes ao ambiente – desfilávamos sobre o tapete vermelho colocado para os apaixonados dançarinos.

Ah, dançávamos muito caliente em plena “Idade das Trevas”! Chocávamos a opinião pública! Que paixão se incomoda com a opinião do povo?!

Depois do sonho, a nossa vida cotidiana: amamos e chocamos opiniões. Porque a exaltação pública é a “demência da canalha”, dizia Voltaire. O meu partido é contra as “utopias repressoras”, e, é por isso que sempre me permito lhe amar mais do que posso. Hoje, estamos na “Idade da Guerra Contemporânea” ou “Idade da Sensibilidade Lascada”, essa “Era Convulsa”, cuja espécie humana está jungida, eu e você, nós superamos isto tudo através do amor.

Porém, que notícias darão de nós? O que falarão a respeito dos ultras-românticos?! E qual seria o contra-ataque de nós - defensores do sentimentalismo melodramático e do erotismo melancólico - para vencer as inevitáveis injúrias, calúnias, difamações contra nós dois juntos?! Fundaríamos o Comitê Revolucionário dos Últimos Românticos, através de um discurso extremista: O amor é o renascimento que deu certo para a cultura sentimentalista. É o movimento iluminista que ao invés de culminar na influência ao tão repetido bordão revolucionário: “fraternidade, liberdade e igualdade”, traz no seu emblema: Ponham o individualismo de lado, companheiros, e, abram seus corações à banda!?

Se este contra-ataque ocorresse, estas palavras, por certo, incitariam reações incivilizadas: a esperada ovação se transformaria nas vaias dos megalomaníacos, egoístas, mal-amados, mal-humorados, mal consumidos, que formariam um conjunto de vozes, e, de forma concomitante, gestos obscenos e objetos seriam lançados contra a oratória do partido romântico, de tal modo que mostrariam uma sofisticada repugnância em relação ao nosso discurso.

Ah, somente bela é a “democracia” em que vivemos! Maquiavel bem recomendou que ficasse longe da ciência do poder aquele que aspira a salvação da alma, e, o mundo, embora negue, não compreendeu as lições de “O Príncipe”, o velho provocativo libelo. E a única teoria política que impera no amor, senhores, é o anarquismo. O amor é anarquista!

Conjugo o nosso amor. Inicio do subjuntivo, passo pelo indicativo, chegando ao imperativo para dizer que quando você fala, acalma meu espírito! Exponho-me ao seu modo. Eu gosto de invadir pelos dois pólos – vou do congruente ao oposto – até alcançar o meu foco. E, assim, contornamos o pretérito, melhoramos nosso presente e agora preparamos nosso futuro promissor em meio aos planos por milhares de anos juntos, uma aliança.

A avaliação dos apaixonados é mais nobre, sincera, despreocupada quanto à forma, e amiga da essência do conteúdo. O que me importa se para muitos o romantismo provoca ânsia de vômito? Contraponho com os versos de Pasternak: “quando você não pode olhar dentro da alma de alguém, tente ir embora e depois voltar”.

Não deixo me levar pelo requinte gramático, bonitas palavras - as riquezas das epígrafes - o que mais me é valioso, sem dúvida, é o agradável som do seu modo gostoso de falar. Você não faz ideia da eficiência com que suas palavras se fixam na minha memória. Nas horas que me replica os argumentos indecisos: “se é amor, acho que não deveria haver confusão”. E nos momentos que você me concebe certas divulgações íntimas: “amo você com a finidade da minha vida, mas pela infinidade do meu amor”. Certifico-me que entre as conjugações de tempos possíveis de vidas: só o amor fica!

Tanto faz se é subjuntivo, indicativo ou imperativo o modo. Não importa gerundismos, pleonasmos, cacófatos, e todas as demais falhas cometidas contra o cunho vernáculo. Hipérboles desnecessárias haveria? Não, não, não, o que seria dos clássicos romances se não fosse os exageros entusiasmados? Werter, Orfeu, e até mesmo Romeu e Julieta não fariam sentido, não teriam as mesmas belezas.

Tendo em vista que não se encontra, em lugar algum de qualquer mundo linguístico, considerando inclusive as reformas ortográficas, fonética mais esmerada e simplicidade silábica mais majestosa do que a inventada pelo amor. Até os mais conservadores e seguidores convictos da Língua Portuguesa, que já viveu ou vive vários amores, há de entender do que falo. A linguagem do amor é universal.

Amantes nem sempre concordam com que o dicionário diz. Aliás, o que poderia um dicionário de antônimos ou sinônimos diante das coisas ditas pelo coração? Não pode nada; não tem força alguma. O amor perdoa todos os lapsos linguísticos, gírias, redundâncias, clichês, jargões e os demais vícios de linguagem dos apaixonados. Por exemplo, quem, dentre os ultras-românticos, nunca acreditou no eterno e belo clichê do “para sempre amor de uma vida”?

Não tenho medo de pertencer a esse mundo, talvez ilusório, dos Últimos Românticos. Rendo-me aos encantos do amor. A despeito de que me pergunto, muitas vezes, o que será de mim se eu escolher envelhecer no mundo dos “bobos”? A que nível chegarão os românticos extremistas? Rogo, pois, à poesia. Diria Fernando Pessoa, para reconfortar as almas dos sentimentais assumidos: “só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor é que são realmente ridículas”.

Correto ou incorreto, coerente ou incoerente, coeso ou incoeso. O amor quanto mais pueril se mostrar diante dos olhares alheios, mais vivaz será o brilho da sua pujança.

Portanto, o leitor, que não concordar comigo, ponha o individualismo de lado, e, abra o coração à banda.

No entanto, mesmo eu sendo uma defensora convicta dos partidários do Comitê dos Ultras-românticos, admito que todo tipo de sentimento, assim como as sensações, terminam como num trago de vida. Libera a chama branca de vida na forma gasosa embranquecida, acinzentada, permitindo soltar vagarosamente pelo nariz. Tudo tem seu fim risível. Chama que escorre pela boca. Não tenho paciência para guardar tanto rancor, este sentimento feio assim que querem me servir: tanto prato de mágoas como um filé à parmigiana, servido com pedaço de cadáver de ressentimentos com um queijo gorgonzola derretido por cima, para parecer mais apetitoso, respondo: “não quero mais este prato idiota, isto se ingere, no entanto, não me alimenta”. Não, não tenho mais paciência. Vamos para frente. Vamos para frente. Minha vida insiste em não esperar. Minha outra vida me cobra mais felicidade, me cobra mais velocidade. Vamos para frente. Vamos para frente. Chama que escorre pelos buracos da narina. Uma outra chama. Uma vida. Uma outra vida. Muitos acontecimentos, muitos aborrecimentos passageiros, muitas aventuras passageiras, muitos sentimentos liberados. Um outro trago. Um outro gole de vida. Estou de volta. Write? Write! Write!

Luana Zenaide
Enviado por Luana Zenaide em 26/02/2017
Código do texto: T5924463
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