ANTIGUIDADES E PRECIOSIDADES

Costumo dizer que sou do tempo que lamparina dava choque, não sou tão velha assim, mas sou da década de 70, do século passado da geração que não inventa, mas aumenta. Olhando as fotografias vejo tudo engraçado. Sou do tipo que fotografia tem que ser revelada. Os tempos são outros, mas o que é bom a gente nunca esquece fica gravado em nossa mente. Eu era bem pequena recordo-me muito bem. Ia cedinho para a casa do meu avô tomar leite mugido, quentinho da hora, saudável, puro e forte diferente de agora.

De tudo isso eu lembro também, ao percorrer o caminho, meus pés se molhavam de orvalho e se feriam com espinho, os cachorros comigo latiam e eu chorava baixinho com medo continuava o meu caminho sozinha. Sou do tempo que tomava banho na lagoa ou no açude e bebia água de poço ou de cacimba. Bons tempos que jamais voltarão, mas que deixaram saudade no meu coração.

À tardinha ia novamente para a casa de meus avós maternos, sentada na perna de meu avô, ouvia histórias de grandezas e obras da natureza, porém não lembro de enchentes nem tempestades devastadoras como vemos agora. Eles costumavam dizer que eu era adivinha, perguntavam se ia dar água no poço e eu com o dedinho indicador dizia que sim e realmente a água fluía e com alegria apontavam para mim.

No entanto, entre tantas alegrias e boas lembranças há também tristezas. Eu e minha irmã gostávamos muito de banana, aliás ainda é minha fruta preferida. Numa certa tarde de novembro aconteceu o inesperado. Eu e minha irmã brigávamos por algumas bananas verdes e meu avô saiu sem dizer nada e sem ser percebido foi buscar algumas bananas que havia deixado no mato, pois só assim, ele acreditava que chegariam a amadurecer. De fato, ainda me lembro do cacho de banana que ele trouxe. Eu tinha por volta de uns seis anos de idade, mas aquela cena nunca saiu da minha memória. Meu avô chegou na porta que ligava a sala à cozinha e disse:

- Oh! Roquinha, a cascavel me matou. Daí então, foi um corre- corre e de tudo que ensinaram foi feito, mas infelizmente ele faleceu.

Os anos se passaram, mas o meu amor pelo meu avô estará sempre no fundo da minha alma. E este conto é minha homenagem pela pessoa maravilhosa, humilde e carinhosa que ele foi. Por isso reconheçamos o valor que cada pessoa tem em nossa vida.

Marinalva Almada
Enviado por Marinalva Almada em 08/03/2017
Reeditado em 14/12/2018
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