HISTÓRIAS QUE A VIDA CONTA

      Sim. Foram felizes, até o dia em que a tragédia aconteceu, pois aí o medo passou a fazer parte de suas vidas. Mas continuaram e souberam até o fim, levar o que restou, juntando os cacos, colando as fendas, curando o que machucado ficou...
..... Era um belo sábado de sol, a praia lotada.
Sentada na cadeira de praia, ladeada pelas amigas, conversavam e riam alegremente exaltando a juventude que as faziam mais belas e desprovidas de qualquer tristeza, porque àquela altura, a vida era maravilhosa para todas.  Olhavam as pessoas na água, admiravam os banhistas em seus trajes sumários e comentavam entre si: que Apollo, um Deus Grego, uma perfeição, isso a cada turminha de rapazes que passava!
      Estavam entusiasmadas pois, à noite, no Clube local do balneário, haveria um baile com uma Banda famosa "Os Beatles Argentinos" que iria se apresentar pela primeira vez no Brasil. Eram os anos sessenta, dourados para a música e para a juventude graciosa, sem tantas mídias como agora, mas que sabia aproveitar o bom da vida como ninguém...
      Hora do baile, clube repleto, mistura de perfumes e odor de cigarros pelo ar, pois naquela época quase todos jovens fumavam.
      A luz negra convidava os casais à pista de danças. As meninas todas já havim chegado e estavam na mesa escolhida, a um canto, bem perto do conjunto.  Marise também, a nossa personagem, já estava lá, vestida num tubinho em preto e branco, cabelos longos e soltos, revestidos de uma rinsagem prata, muito usada para dar brilho aos cabelos sem precisar pintá-los. Estava linda. Era esbelta e elegante.
       Todos dançavam, menos ela que sentada observava a dança...
....Ai ele surgiu. Veio em sua direção e a tirou para dançar. Seu coração bateu forte, era como se reconhecesse na mesma hora a história que iriam viver... e viveram. Não se deixaram mais. Chamava-se Sérgio, era mineiro, estudante de engenharia e morava na capital. Estava alí com amigos por causa do conjunto que estava se apresentando.  Beatles no auge, a música que dançavam era "Michelle" muito bem interpretada pela banda argentina.
      E depois saíram do clube em direção à praia e de mãos dadas caminharam à luz da lua, sob castanheiras e palmeiras da orla, sentaram na areia e se esqueceram de voltar para o clube, tanto conversaram tentando se conhecer melhor. Marcaram de se encontrar no outro final de semana e assim continuaram a namorar...
      - Mãe, ajeita minha grinalda, parece que está presa no véu. Pegue meus sapatos e meu bouquet. Será que ele vai gostar como estou?
      - Calma filha, você está linda e a igreja repleta de convidados!
E ele lá na frente, à sua espera! O coração parecia querer saltar pela boca, tanta era a emoção. Quase nem conseguiu repetir as palavras que o padre lhe indicava...  Enfim casados, a chuva de arroz e pétalas de rosa, a valsa, a festa, os presentes, enfim sós, para a viagem de lua de mel...
......Querido, dê chupeta pro Joâo Paulo enquanto esfrio o mingau. Faça-o parar de chorar que já estou indo!
     A vida seguindo, filhos crescendo, já com 8 e 4 anos. João Paulo e Patrícia. Na mesma escola,  em classes diferentes.
     E havia a babá Ana e havia a Regina que fazia os serviços de casa. Marise e Sérgio trabalhavam fora o dia todo. Ela professora, ele tinha uma Construtora em franco desenvolvimento.
     Naquele dia Sérgio saíra cedo de casa, dizendo chegar um pouco mais tarde pois iria até a cidade vizinha para ver um cliente.
     O dia transcorria tranquilo, e a noite já vinha chegando. Nada das crianças e de Sérgio! Começou lhe dar um medo infindo, o marido longe e esse atraso nunca acontecera. Começou rezar.
      De repente o telefone toca.  Alô, sim, é dona Marise! Como assim? Meus filhos sequestrados? Santo Deus, como foi isso? - Madame, só estou dizendo que eles estão bem. Entrarei em contato, e desligou o telefone.
      Marise entrou em pânico, começou gritar os vizinhos que acorreram espantados. A casa já repleta de gente, aí chega Sérgio que aciona a polícia com dificuldade porque naquela época telefonar era mais difícil pois dependia de telefonista e de linha desocupada. Todos em total desesperero, sem saber que fazer.
       Ficavam ao lado do telefone noite e dia, aguardando... 8 dias se passaram, ela a poder de remédios, ele sem se alimentar, aos prantos. A polícia sem pistas. As estradas eram todas de chão, dificil acesso, mas faziam buscas sem cessar pelas redondezas do município e vizinhos.
       No nono dia, o telefone toca: Alô, sim fala pelo amor de Deus! Quanto querem? Não lhes façam nenhum mal, por favor, quero falar com eles, dizia Sérgio ao telefone.   E eles diziam, olhem, não queremos polícia, venha sozinho e coloque o dinheiro debaixo da ponte, estou avisando, não tentem nada pois estaremos com as crianças sob a mira de revolver.  Depois de meia hora, soltamos eles, no mesmo lugar. Tragam numa bolsa de escola, não tentem nos enganar pois mataremos sem piedade! Esperem a noite chegar...
     E assim foi feito conforme combinado, pedindo à polícia para se manter afastada. E graças a Deus os sequestradores mantiveram a palavra e soltaram as crianças, sujas, muito magras e apavoradas, mas com vida. O encontro dos quatro foi emocionante, choravam e riam, e se abraçavam e agradeciam a Deus, por tudo ter terminado bem.
      Hoje, passados muitos anos, nem querem lembrar do acontecido. Mudaram de cidade,  conseguiram superar o trauma,  esperando que o tempo se encarregue de apagar de suas memórias, tão triste episódio!


 
Simplesmente Romântica
Enviado por Simplesmente Romântica em 29/03/2017
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